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23/05/2008 - 12h41

Italiano faz grande filme sobre Andreotti, mas se recusa a falar de politica

THIAGO STIVALETTI

Colaboração para o UOL, de Cannes
Foi uma surpresa para os jornalistas que esperavam o italiano Paolo Sorrentino na coletiva de imprensa. Seu filme "Il Divo", um ensaio livre sobre os anos do ex-primeiro-ministro Giulio Andreotti no poder, é uma comedia inspirada e mordaz sobre o circo do poder na Itália - que continua atualíssimo, com a reeleição de Berlusconi e sua falsa democracia.

Christophe Karaba/EFE
O cineasta Paolo Sorrentino ao lado do ator Toni Servillo, que vive o ex-primeiro ministro Giulio Andreotti em "Il Divo"
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No filme, Andreotti (numa grande atuação de Toni Servillo) protagoniza uma série de cenas que misturam surrealismo e crítica politica, como uma festa regada a samba em pleno gabinete. E desfila algumas de suas frases mais celébres - "melhor ajudar aos padres do que a Deus, pois os padres votam"; "Cristo nos ensinou a dar as duas faces; ainda bem que são só duas, e não as outras".

Em resposta a uma das primeiras perguntas, Sorrentino foi taxativo: "Nao quero falar de política, estou aqui para falar de cinema", frustrando todos os jornalistas (principalmente os estrangeiros) que queriam saber mais sobre Giulio Andreotti, considerado o político mais importante da Itália nos ultimos 50 anos. O estadista é um dos principais representantes do partido conservador Democracia Cristã, eleito sete vezes primeiro ministro, e acusado de negligenciar ajuda na resolução do seqüestro do senador Aldo Moro por comunistas - Moro acabou sendo morto pelos seqüestradores.

O cineasta preferiu então falar sobre a construção de Andreotti como personagem no filme: "Nunca me coloquei o problema de torná-lo simpático ou antipático, apenas realcei suas características mais evidentes. Andreotti tem uma grande capacidade de contradição e uma ambigüidade em si, e era isso que me interessava".

Em um cinema cada vez menos inspirado como o italiano, que já teve grandes nomes como Fellini, Pasolini e Antonioni, Sorrentino é uma grande (senão a maior) esperança de filmes com consistência estética. Seu filme anterior, "O Amigo de Familia" (exibido na Mostra Internacional de São Paulo) já mostrava um cineasta afeito ao estranhamento e à exploracao do som nas cenas.

Mas a julgar pela decadência cultural da Itália, o domínio de um premier conservador (Berlusconi) e uma ameaça de retomada do fascismo em alguns episodios recentes, é melhor que Sorrentino e outros artistas voltem a falar de política com a máxima urgência.

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