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24/05/2008 - 14h57

Competição oficial do Festival de Cannes termina sem nenhum filme empolgante

ALICIA GARCÍA DE FRANCISCO
Cannes (França), 24 mai (EFE).- A competição oficial do 61º Festival de Cannes, que terminou hoje com a exibição de "Entre les murs", do diretor francês Laurent Cantet, apresentou alguns filmes bons, outros regulares e outros dispensáveis, mas nenhum de destaque, enquanto o anúncio dos prêmios é aguardado para amanhã.

O nível médio dos 22 filmes na competição principal foi bom, mas não excelente, embora tenham sido apresentadas obras interessantes como "Changeling", de Clint Eastwood; "Leonera", de Pablo Trapero; "Gomorra", de Matteo Garrone; e "Adoration", de Atom Egoyan, o certo é que ninguém surpreendeu.

Por originalidade, destaca-se o documentário "Waltz with Bashir", do israelense Ari Folman, sobre o papel de Israel no massacre de palestinos em Sabra e Shatila (Líbano), em 1982.

Se somarmos complicação à originalidade, pode-se incluir "Synecdoche, New York", que marca a estréia como diretor do roteirista Charlie Kaufman, como um ponto de partida muito bom, mas que se perde em seus pensamentos.

Por crueldade, destacam-se a retratação das bases da máfia napolitana que o italiano Garrone faz em "Gomorra" e "Leonera", do argentino Trapero, que conta a dura história de uma mulher presa que dá à luz na cadeia, interpretada pela atriz Martina Gusman, e que foi bem recebido em Cannes.

Por solidez de criação pode-se apontar "Changeling", mais uma prova de que Clint Eastwood é um mestre atrás das câmeras, e "Adoration", do canadense Egoyam, uma história sutil com os ataques de 11 de setembro como pano de fundo.

Dentre os filmes arriscados não se pode deixar de mencionar "Che", de Steven Soderbergh, dois filmes - de quatro horas e 28 minutos de duração, gravados em espanhol - nos quais Benicio del Toro interpreta o revolucionário argentino e que parecer ser uma explicação destinada especialmente ao público americano.

"Il Divo" também se sobressai como uma divertida e ácida sátira sobre Giulio Andreotti e a classe política italiana, que foi ganhando adeptos desde sua exibição.

Muitos em Cannes podem premiar a proposta dos irmãos Dardenne, "Le silence de Lorna", filme com o qual buscam sua terceira Palma de Ouro e tentam fazer história ou a obra turca "Uç Maymun", um drama social.

Entre os filmes sórdidos, destacam-se "My magic", do cineasta cingapurense Eric Khoo, sobre um pai alcoolizado, e "Serbis", do filipino Brillante Mendoza, que agradou o presidente do Júri, o ator e diretor Sean Penn, que inclusive pediu uma segunda exibição do filme para que seus companheiros de banca o vissem de novo na tarefa de escolher os ganhadores.

Em "Palermo shooting", de Win Wenders, a música tem tanta importância quanto a palavra e as bases de sua filmografia estão muito presentes.

Dos três filmes franceses em competição, o melhor é "Un conte de Noel", de Arnaud Desplechin, uma ótima comédia "franco-francesa", como os franceses chamam seus elementos mais característicos e singulares.

A relação de estudantes adolescentes em "Entre les murs", de Laurent Cantet, agradou seus fãs incondicionais, mas "La frontière de l'Aube", de Philippe Garrel, parace não ter conseguido nem isso, se se levar em conta que foi vaiado após sua projeção, algo que também aconteceu com "Delta", do húngaro Kornel Mundruczo e em menor medida com "La mujer sin cabeza", da argentina Lucrecia Martel.

Há dois brasileiros na competição oficial. "Ensaio Sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, que abriu o Festival e "Linha de passe", de Walter Salles e Daniela Thomas, dois trabalhos bem feitos, mas que não possuem narrativas bem acabadas.

Não há muito que dizer do resto, como "Er shi si cheng ji", do chinês Zhangke Jia, e menos ainda do esquecível "Two lovers", do americano James Gray.

O resultado final sai neste domingo.

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