Com Angelina Jolie e Catherine Deneuve como concorrentes, o prêmio de interpretação para a atriz brasileira Sandra Corveloni, 43 anos, foi uma das gratas surpresas do júri presidido por Sean Penn no 61º Festival de Cannes. Integrante do grupo Tapa, Sandra só havia feito dois curtas-metragens antes de ser selecionada por Walter Salles e Daniela Thomas para fazer a mãe dos cinco irmãos de "Linha de Passe". A personagem marcou sua estréia profissional no cinema.
É a segunda vez que uma brasileira ganha o prêmio de interpretação feminina; a primeira foi Fernanda Torres, por "Eu Sei Que Vou Te Amar" (1986), de Arnaldo Jabor. Embora Angelina Jolie ("The Exchange") e Catherine Deneuve ("Un Conte de Nöel") estivessem mesmo concorrendo com Sandra, as super-estrelas não estavam entre as principais cotadas para o prêmio de atriz. As favoritas até pouco antes da premiação eram a argentina Martina Gusman ("Leonera"), a espanhola Maria Onetto ("La Mujer Sin Cabeza") e a albanesa Arta Dobroshi ("Le Silence de Lorna").
Em entrevista ao
UOL, por telefone, de sua casa em São Paulo, Sandra conta que estava brincando com o filho Orlando, de 6 anos, quando recebeu um telefonema de Anna Luiza Muller, assessora de imprensa do filme, contando que naquele momento Salles e Daniela estavam recebendo o prêmio por ela. De início, entendeu que "Linha de Passe" havia ganho a Palma de Ouro. "Achava que o filme ia mesmo ganhar alguma coisa", disse ela. "Mas não imaginava que ia ser eu. Desde aquela hora, minha casa virou uma grande confusão."
Sandra não foi a Cannes com o restante do elenco por conta de um problema pessoal. Recentemente, a atriz teve uma gravidez interrompida e estava em processo de recuperação. Daniela Thomas recebeu o prêmio por ela e falou primeiro em português: "Querida, você não pôde vir com a gente a Cannes, mas seu espírito sempre esteve conosco". Depois, em inglês, a co-diretora explicou para a platéia que o prêmio vem em boa hora por conta de um grande baque na vida pessoal da atriz.
Estréia no cinemaAtriz profissional de teatro há 23 anos e integrante do grupo Tapa há cerca de 15, Sandra foi selecionada para o papel de Cleuza, mãe da família de "Linha de Passe", por meio de um teste que durou cerca de um ano. Foi um processo de muitas idas e vindas, que no fim deu bons resultados. "Eles sabiam muito bem o que queriam", conta ela. "E queriam que a família fosse real. Por isso, demoraram tanto para escolher. Mas valeu a pena."
Mais acostumada ao palco do que ao aparato cinematográfico, Sandra conta que sempre sonhou em "fazer um filme legal". "Mas queria que fizesse parte de nossa realidade", explicou. "E esse filme se encaixa perfeitamente no que eu sempre sonhei em fazer."
A experiência de filmar com Salles e Daniela também foi gratificante. "A gente não se sentia amarrado ao roteiro, tinha espaço de verdade para criar", disse Sandra, enquanto era maquiada para uma entrevista de televisão. "Foi uma criação coletiva. E foi lindo."
Quando questionada sobre estar equiparada aos grandes nomes do cinema mundial presentes na Croisette, a atriz deu muita risada. "Veja só você, e eu nem estava lá para me exibir bem bonita para a (Angelina) Jolie e a Catherine Deneuve", brincou. "Mas a gente rala tanto que merece o nosso reconhecimento."