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26/05/2008 - 12h52

Surpresas em um histórico ajustado ao desejo do Júri de filmes comprometidos

Alicia García de Francisco

Cannes (França), 25 mai (EFE).- Como sempre ocorre no Festival de Cannes, as apostas não foram todas cumpridas em uma lista de premiados equilibrada que terminou como desejava o Júri - fornecendo prêmios aos filmes conscientes da situação do mundo atual - além do reconhecimento do trabalho dos latino-americanos e do cinema italiano.

A imigração, a pobreza, a família, a máfia e a classe política são os temas dos filmes que receberam hoje em Cannes os principais prêmios da 61ª edição do Festival "mais importante do mundo", como não se cansaram de repetir os presentes na festa de gala que encerrou hoje o evento.

A Palma de Ouro foi para a França, após 21 anos, graças a "Entre Les Murs", um filme muito oportuno sobre a "sociedade francesa, múltipla, complexa, com atritos ocasionais", como a definiu seu diretor, Laurent Cantet, ao receber o prêmio.

Cantet estava acompanhado pelos jovens atores que protagonizam esta história de relações entre adolescentes e seus professores, que é desenvolvida, em sua maior parte, numa só sala de aula, durante as aulas de francês.

Nessa classe, em longuíssimas discussões com o professor (interpretado por François Begaudeau, que é também o autor do livro no qual está baseado o filme), são revividos alguns problemas privados dos estudantes, muitos deles relacionados com o fato de serem filhos de imigrantes.

Os problemas de família em uma sociedade complicada, como é o caso da turca, é o tema de "Üç Maymun"(Os Três Macacos), de Nuri Bilge Ceylan, que recebeu o prêmio de melhor diretor por esta árida e resistente história de mentiras e meias verdades que conta com uma extraordinária repartição e uma narração muito pausada, sutil e de olhares.

Com uma ausência quase total de música, uma fotografia tão dura como seus protagonistas e um diálogo curto, o filme conta claramente o que deseja contar, e é apenas uma etapa nas relações familiares.

E se os dois principais prêmios do Festival ficaram na Europa, os dois de atuação cruzaram o Atlântico para cair em mãos de dois intérpretes latino-americanos.

O porto-riquenho Benicio del Toro, o único que já era previsto, recebeu o prêmio de melhor ator por sua excelente interpretação de Ernesto Che Guevara nos dois filmes de Steven Soderbergh que compõem "Che".

Com uma grande aclamação e com o Júri, presidido pelo ator e diretor norte-americano, Sean Penn, de pé, Del Toro afirmou que este filme é um "sonho que virou realidade" e dedicou o prêmio "ao homem, Ernesto Che Guevara" e a Soderbergh, pelo apoio constante a todos os atores que participaram do filme.

A atriz brasileira Sandra Corveloni não pôde desfrutar de seu prêmio, já que ainda está de repouso depois de ter perdido o filho que esperava, e em seu nome receberam o prêmio de melhor interpretação feminina os co-diretores de seu filme, Walter Salles e Daniela Thomas.

Corveloni realiza uma excelente interpretação em "Linha de Passe" - filme que conta a história de uma mãe solteira com quatro filhos e que espera mais um, e resolve mandar seus filhos (que também têm atuações fantásticas) para a luta mais cedo, na grande São Paulo.

O Júri também presenteou o cinema italiano, que levou dois prêmios para os dois filmes presentes na competição.

"Il Divo", um impressionante, irônico e ácido retrato do ex-primeiro-ministro da Itália, Giulio Andreotti, realizado pelo italiano Paolo Sorrentino, levou o prêmio do Júri, e "Gomorra", de Matteo Garrone, recebeu o Grande Prêmio do Júri por sua crua visão da Camorra Napolitana.

Por outro lado, os irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne viram dissipar-se a possibilidade de levarem sua terceira Palma de Ouro - o que teria sido histórico - e tiveram de se conformar com o prêmio de melhor roteiro por "Le Silence de Lorna", um sólido filme sobre a imigração ilegal na Europa.

Fora dos premiados ficaram alguns dos filmes favoritos - num ano onde ninguém sabia ao certo quais eram eles -, como o argentino "Leonera", de Pablo Trapero, o documentário israelense "Waltz With Bashir", de Ari Folman ou "Changeling", de Clint Eastwood.

Ao ator e diretor norte-americano, juntamente com a atriz francesa Catherine Deneuve, recebeu o prêmio especial da 61ª edição do Festival "por toda uma vida de trabalho".

Com a ausência de Eastwood, a atriz francesa subiu sozinha para receber seu prêmio das mãos do presidente do Júri da competição oficial, Sean Penn, que destacou que em ambos os casos se dava uma combinação de trabalho, contribuição e uma escala de valores que continuará vigente "hoje e sempre".

A "Câmara de ouro" para a melhor estréia foi para "Hunger", do britânico Steve McQueen e, entre os curtas-metragens, a Palma de Ouro foi para "Megatron", de Marian Crisan (Romênia), e uma menção especial para "Jerrycan", do australiano Julius Avery.

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