PARIS - Em Cannes, onde se inicia nesta quarta-feira um dos mais importante festivais cinematográficos do mundo, a atração não está apenas nas telas, mas também no tapete vermelho, com estrelas competindo em elegância e glamour às custas de grandes marcas, que disputam centímetro a centímetro essa excepcional vitrine.
"Há poucas marcas, mas a competição é grande", reconhece uma fonte da grife Elie Saab. As pequenas grifes estão praticamente fora do páreo, mas há surpresas como na vez em que Sharon Stone elegeu um look de Guy Laroche para desfilar no tapete vermelho da Croisette.
O principal ponto para o pequeno número de grifes é que vestir uma celebridade requer um orçamento, não só para emprestar as peças, mas também "para enviar presentes e convites para as grandes festas" em que serão fotografadas a noite toda, explica um conhecedor desse mundo tão particular.
"Há também aqueles que pagam para utilizar os vestidos", acrescenta. As grifes desmentem, insistindo que o caráter desse "intercâmbio" com as atrizes é "amistoso".
Para as grandes marcas, o Festival de Cannes e a cerimônia do Oscar são os dois maiores e mais importantes acontecimentos de mídia do ano, por isso vale a pena emprestar vestidos, acessórios e jóias.
"Existe um grande trabalho de contato para que as atrizes venham ver nossas coleções", reconhece a fonte da grife Elie Saab, que criou o ousado vestido de transparências utilizado por Halle Berry na cerimônia em que a atriz ganhou o Oscar, em 2002.
Outras marcas afirmam que não são elas que pedem para que as atrizes desfilem seus modelitos. "Elas nos procuram", diz uma fonte da maison Chanel.
Além das atrizes que têm contratos de publicidade com a maison, como Anna Mouglalis, a Chanel vai vestir a presidente do júri, Isabelle Huppert. A atriz vai ter um "guarda-roupa totalmente preparado", incluindo um vestido feito especialmente para ela por Karl Lagerfeld. Asia Argento e Robin Wright Penn, que também fazem parte do júri, contataram a marca, que espera vestir também algumas de suas "fiéis" clientes, como Diane Kruger e Penélope Cruz.
As grifes prestam grande atenção às indicações das atrizes. "Não há necessariamente apenas um critério", mas o vestido deve "corresponder à atriz e à imagem da marca", afirma uma fonte da maison Dior.
Na Chanel, o principal critério é "a qualidade, não a quantidade". "Se Pamela Anderson me pedisse um vestido, eu diria não", explica um porta-voz da marca.
A eleição dos diferentes modelos é feita geralmente em Paris. "Fazemos a maior quantidade de testes possíveis para fazer os ajustes em Paris e para que os vestidos estejam prontos quando chegarem a Cannes", diz a maison Dior.
Dior veste "cerca de vinte atrizes" e, além desses vestidos, leva para Cannes mais uma centena deles, para ficarem à disposição de atrizes e personalidades.
A maison Chanel, que envia uma pequena equipe para Cannes, prevê "alguns vestidos de reserva" para as atrizes que veste.
O maior perigo "é vestir com o mesmo vestido duas atrizes no mesmo tapete vermelho" afirma a grife Elie Saab, que anota rigorosamente "quem vestiu o que há vários anos".
Os vestidos, que só podem ser utilizados uma vez, são devolvidos, em princípio para as grifes, mas pode acontecer que estas dêem eles de presente para as atrizes. Apesar disso, o mais frequente é que uma atriz receba como presente "um pequeno acessório, uma bolsa ou um par de sapatos que tenha gostado", diz a maison Dior.
É raro as atrizes ficarem com os looks sem autorização, mas na maison Chanel o caso de uma celebridade que se recusou a devolver um vestido particulamente valioso é lembrado com amargura. Este ano, diz a grife, está tudo bem, porque ela não pediu nada da marca.