Sem a presença de um polêmico Sean Penn, presidente no ano passado, a coletiva do júri da Competição Oficial de Cannes este ano foi morna. Entre declarações como "não estamos aqui para julgar, mas para amar os filmes" e "é difícil explicar por que amamos uma obra de arte", a presidente do júri, a atriz francesa Isabelle Huppert, pareceu já intimidar os demais participantes.
-
Cinco dos nove membros do juri são mulheres e atrizes: a taiwanesa Shi Qi, a italiana Asia Argento, a francesa Isabelle Huppert, a americana Robin W. Penn e a indiana Sharmilla Tagore
"Não estou preocupada em ser diplomática, não é uma palavra que eu goste muito. Somos um júri, e não o Ministério das Relações Estrangeiras. Vamos discutir no momento certo, quando tivermos de discutir", disse a atriz de "A Professora de Piano". "Se alguém no júri discordar radicalmente de madame Huppert no júri, terá coragem de enfrentá-la?", perguntou um jornalista francês. Resposta: um silêncio constrangedor...
Ao contrário de Sean Penn, Huppert garantiu que não vai defender o cinema político como no ano passado. "Não tenho a intenção de estabelecer nenhuma linha de avaliação. Penn é americano, e entendo que como tal tivesse suas preocupações políticas. Nós do cinema europeu sempre pensamos de outra forma. Mais do que política, o cinema é antes uma ambição humanista e um projeto estético", declarou a atriz.
Dos nove integrantes do júri, cinco são mulheres e atrizes - além de Huppert, a americana Robin Wright Penn (ex de Sean Penn), a italiana Asia Argento, a taiwanesa Shu Qi e a indiana Shamila Tagore. "Sempre desconfiei das classificações, não acredito que exista um cinema masculino e outro feminino. Mas estou feliz de termos superado os homens desta vez", disse a francesa.
Como sempre, houve algumas boas tiradas na coletiva. "Os prêmios são sempre uma péssima idéia, exceto quando você finalmente ganha um", declarou o escritor britânico Hanif Kureishi, de "Minha Adorável Lavanderia". "A última vez que pude ver 20 filmes em dez dias, acho que eu devia ter uns 19 anos", disse o americano James Gray, diretor de "Os Donos da Noite".
Talvez a grande reflexão tenha vindo do turco Nuri Bilge Ceylan, diretor de "Distante" e "Os 3 Macacos", ambos premiados em Cannes: "Antes de mais nada, tenho que tomar cuidado comigo mesmo. Os filmes realmente originais são tomados como chatos quando são lançados. Filmes que hoje considero como os mais importantes da minha vida foram muitos duros de ver da primeira vez".