Não tem pra Wolverine. O maior mutante do cinema mundial é taiuanês e se chama Ang Lee. Como um mesmo cineasta pode fazer obras tão diferentes quanto o blockbuster "Hulk", o drama gay "O Segredo de Brokeback Mountain" e o romance de espionagem (sem melodrama e falado em mandarim) "Desejo e Perigo"?
Pois Lee conseguiu mais uma vez, e entrega um filme totalmente diferente dos anteriores em "Taking Woodstock", exibido nesta sexta no Festival de Cannes.
"Woodstock" não chega a ser uma comédia, mas é um retrato leve, engraçado e colorido do famoso festival que tomou o norte do estado de Nova York em 1969, para o qual eram esperados inicialmente 50 mil jovens, e que acabou arrebatando 500 mil pessoas.
Tudo é contado do ponto de vista de Elliot (o estreante Demetri Martin), um jovem que volta ao interior de Nova York para ajudar os pais, donos de um hotelzinho caindo aos pedaços, à beira da falência. Ele fica sabendo que um vizinho recusou a oferta para abrigar uma "pequena festa jovem" e resolve ajudar os organizadores. Sem querer, Elliot acaba fazendo história naqueles anos libertários.
Lee cria belas imagens com cores simples (o verde dos campos, as camisetas coloridas dos jovens) e apoiado em um elenco de pequenas participações eficientes, como Liev Schreiber, de "Wolverine", como um simpático travesti; Emile Hirsch, de "Speed Racer"; e Paul Dano, de "Pequena Miss Sunshine". Mas quem rouba a cena é a britânica Imelda Staunton, de "Vera Drake", como a histérica mãe de origem russa de Elliot. Pode-se apostar desde já em uma indicação ao Oscar de coadjuvante para ela.