CANNES - Com "Taking Woodstock", uma comédia tão deliciosa quanto inteligente sobre a juventude dos anos 60 cujo mote é o lendário festival de Woodstock, o cineasta taiwanês Ang Lee conquistou neste sábado o público de Cannes.
"Taking Woodstock", que é baseado no livro autobiográfico de Elliot Tiber, descreve o fenômeno social e cultural que foi Woodstock, mas sem cair na armadilha de tentar reproduzir o evento.
A ação transcorre a poucos quilômetros do local do festival, e acompanha algumas das milhares de pessoas que fizeram parte dele, de uma maneira ou de outra. Através delas, Lee recria o espírito de toda uma geração com um humor afiado e a capacidade de transportar o espectador para 40 anos atrás.
Elliot (Demetri Martin), um pintor fracassado e decorador com sérios problemas financeiros, decide deixar Nova York para se instalar no pequeno povoado rural de White Lake, onde seus pais administram um motel falido.
Ao saber que uma localidade vizinha havia se negado a autorizar a realização de um festival hippie em suas terras, Elliot decide aproveitar a oportunidade para tentar sair da crise, e entra em contato com os organizadores.
Três semanas depois, em agosto de 1969, meio milhão de pessoas convergem para o pequeno povoado, em um acontecimento que se tornou símbolo de uma época e de toda uma geração - e a vida de Elliot também muda com ele.
Ao redor dele, uma galeria de bons personagens ilustram os dramas e esperanças da época: alguns hippies, claro, mas também um traumatizado ex-combatente do Vietnã, um amalucado grupo de teatro que vive em um estábulo, um organizador de eventos que vive dividido entre o espírito 'paz e amor' e um tino para os negócios, um travesti que trabalha como guarda-costas, e a própria mãe de Elliot, caracterizada no arquétipo da mãe judia, brilhantemente interpretada por Imelda Staunton.
"Depois de anos filmando tragédias, eu queria fazer uma comédia que tivesse algo de drama, mas sem cinismo. Quando Tiber me falou de seu livro, disse para mim mesmo que era isso que queria fazer", declarou Lee em uma entrevista coletiva.
O diretor explicou sua decisão afirmando que "os anos 60 culminam com Woodstock, com essa imagem romântica. Woodstock é o fim da inocência".
"Woodstock é um símbolo: o símbolo dessa jovem geração que se distanciou de seu mundo, que quis buscar uma relação mais justa para viver em paz com os outros e viver em paz com a natureza. Eles semearam uma tomada de consciência que nós estamos assumindo agora", estimou.
"Eu sei que há pessoas que vão dizer que havia muita droga, que eles (os hippies) era sujos, mas eu acredito que é preciso reconhecer o valor de terem vivido três dias de paz, amor e música. Não sei se hoje poderíamos fazer a mesma coisa".