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17/05/2009 - 11h11

Johnnie To e Johnny Hallyday levam a Cannes a aliança em "Vengeance"

Mateo Sancho Cardiel.

Cannes (França), 17 mai (EFE).- A ação coreográfica do diretor Johnnie To, de Hong Kong, chegou ao Festival de Cannes com "Vengeance", protagonizado pelo roqueiro e ator francês Johnny Hallyday, enquanto o filipino Brillante Mendoza trouxe o sadismo em tempo real de "Kinatay".

  • Divulgação

    O roqueiro francês Johnny Hallyday em cena de "Vengeance", o trunfo de Johnny To em Cannes


A forte presença do cinema asiático nesta 62ª edição do Festival de Cannes continua revelando suas cartas, e que Johnnie To guardava na manga para conquistar o público francês foi o ídolo local Johnny Hallyday, além de referências aos filmes de Jean-Pierre Melville.

"Fico feliz com esta interação entre o cinema francês e de Hong Kong, e isso levará meus filmes a mais gente. Espero que 'Vengeance' seja o começo de uma colaboração constante", disse o diretor.

O roqueiro Hallyday, com sua pele de lagarto e os efeitos da cirurgia estética, assumiu com modéstia o papel secundário em Cannes e, no filme, adaptou-se como uma luva ao balé criminoso proposto por To.

"Em questão de diálogos, não tinha muito a aprender", reconheceu Hallyday, em referência ao estilo eminentemente visual de To.

"A maneira de trabalhar de Johnny é muito diferente. Lembra-me de quando fiz um filme com Godard. Ele me deu duas páginas de manhã e isso era tudo o que tinha que aprender para todo o dia", disse.

"Mas aí está o verdadeiro ator: o que tira suas emoções diante da câmara sem roteiro. É verdade que eu, às vezes, dei a imagem de ser uma pessoa muito solitária. Reconheço que a ausência do meu pai me marcou. Mas acho que isso me serviu para enfrentar melhor o personagem", acrescentou.

A solidão é o fio condutor do personagem de Hallyday, chamado Costello, para realizar a vingança do título: quando um grupo de pistoleiros de Macau (China) assassina seus netos, seu genro e deixa em estado crítico sua filha.

Johnnie To volta com "Vengeance" ao mesmo festival onde lançou sua carreira internacionalmente, com a exibição de "Election" (2005) e, desta vez, retoma a linha de sua obra anterior, "Sparrow" (2008). A fórmula é clara: estilizar a ação até fazer com que a ausência de argumento não importe.

Estupro e decapitação

Brillante Mendoza também não precisa de muita premissa para criar o muito interessante "Kinatay", protagonizado por Coco Martin e María Isabel López, e com a qual volta à competição de Cannes apenas um ano após apresentar "Serbis".

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    "Kinatay" acompanha por meio do olhar de um jovem o sequestro, o estupro, e a decapitação de uma prostituta


"Kinatay" significa "massacre" em filipino. A violência, em consequência, é um dos ingredientes principais do filme, que cimenta a emergência do cinema do arquipélago asiático como uma das novas vozes dos circuitos de festivais.

Junto com Lav Diaz e Raya Martín, Mendoza forma um triunvirato que aposta, de diferentes maneiras, em uma linguagem difícil de classificar e, inclusive, de ver.

Em sua entrevista coletiva, Mendoza disse que quis "contar em tempo real uma experiência que mudará a vida de uma pessoa".

A atmosfera que cria para "Kinatay" é opressiva e sufocante. Suspende a ação para calar o espectador com a progressiva negligência moral do protagonista, um estudante da Polícia que embarca, logo após se casar, em uma viagem à humilhação e à tortura de uma prostituta chamada Madonna.

Reflexão terrível sobre os perigos da atitude passiva, o filme segue com um código contemplativo, desfocado e obscuro. Não é narração, mas submersão.

Mas, segundo Mendoza, "o mais surpreendente do filme não são meus esforços para encontrar uma linguagem diferente, mas o que mostro é algo que realmente acontece".

A atmosfera criada é puro desassossego, mas, sendo um diretor com tendência à sugestão, acaba explicitando a mensagem do filme em uma desnecessária moral da história final: "depois que alguém perde a integridade, perde para sempre".

Muitos espectadores, no entanto, a essa altura do filme, já tinham saído da sala.

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