Thierry Frémaux, diretor artístico do Festival de Cannes, tem uma paixão misteriosa pelos filmes do cineasta filipino Brillante Mendoza. Só isso explica o fato de o diretor conseguir uma vaga na competição do Festival de Cannes por dois anos seguidos. Em 2008, ele participou com "Serbis". Este ano, volta com "Kinatay", um filme bastante violento, na linha do francês "Irreversível".
Em "Kinatay", Peping, um jovem estudante de criminologia, está feliz com seu casamento. Quer proporcionar à mulher e ao filho pequeno uma vida confortável. Para isso, aceita a oferta de um colega para trabalhar com o policial que chefia uma gangue em Manila. Em apenas uma noite de trabalho, Peping vai viver o inferno. O bandido e sua gangue sequestram, estupram, matam e decepam uma prostituta que lhes devia dinheiro.
O filme tem alguns interesses. A primeira meia hora mostra Manila à luz do dia, com toda sua agitação caótica, celebração de casamento coletivo, o movimento sujo e vibrante de uma cidade grande do Terceiro Mundo. Isso cria um bom contraste com a segunda parte, da noite violenta, filmada quase sem luz mesmo nos rostos. A seu modo e com pouco dinheiro, Mendoza consegue fazer ao mesmo tempo um filme de gênero e uma denúncia social sobre a corrupção da polícia filipina.
Está difícil aturar tantos filmes sombrios em Cannes - tirando "Bright Star", de Jane Campion, todos concorrentes até agora traziam violência e desespero. Depois de "Bakjwi" (Sede), "Um Prophète" e "Kinatay", ainda vem por aí o terror de Lars Von Trier, Tarantino, o próprio Gaspar Noé (de "Irreversível") e Michael Haneke. Haja nervos.