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17/05/2009 - 17h31

Terror bíblico de Lars Von Trier recebe gargalhadas, aplausos e vaias em Cannes

THIAGO STIVALETTI
Colaboração para o UOL, de Cannes
Diretor de filmes tão densos quanto polêmicos - "Dançando no Escuro", "Dogville" -, o dinamarquês Lars Von Trier conseguiu mais uma vez acender a fogueira da polêmica em Cannes.

  • Divulgação

    Cena do filme "Anticristo", do dinamarquês Lars Von Trier


Seu novo filme, o terror "Anticristo", recebeu risos e até gargalhadas durante a sessão de imprensa. Ao final, a plateia se dividiu entre vaias e aplausos - a maioria vaiava.

"Anticristo" é o tipo de filme que os críticos vão amar odiar, e outros vão amar sem entender muito por quê. Será avaliado como péssimo por uns e uma obra-prima por outros. Ao final da sessão, quase nenhum jornalista aceitava dar entrevista para os canais de TV e internet que cobrem o festival, porque ninguém conseguia formar uma opinião.

Von Trier realizou o filme após uma grave depressão que viveu há cerca de dois anos, e que o fez interromper a escritura do roteiro. No material de divulgação, ele afirma que boa parte das imagens de "Anticristo" veio dos seus sonhos, que a trama tem apenas o mínimo necessário para mostrar essas imagens, que não pede desculpas pelo filme, e que o considera o mais importante de sua carreira.

O máximo que se pode dizer sem estragar a surpresa: devastados com a perda do filho, um casal (Willem Defoe e Charlotte Gainsbourg) se refugia em uma casa isolada no meio de uma floresta. Ela sofre e chora muito com a perda, ele cuida dela como se fosse um terapeuta. Von Trier reveste todo o seu filme de tons bíblicos, como se Adão e Eva voltassem a uma espécie de inferno final, ou inferno original - a floresta, não por acaso, se chama Éden. Desde o início, o conceito do sexo é ligado ao da morte, em algumas imagens poderosas e outras apenas chocantes.

O filme vai dividir opiniões, mas uma coisa é certa: o prólogo em preto-e-branco, que conta em poucos planos a história trágica do casal, tem as mais belas imagens já feitas por Von Trier, ao som de uma sinfonia de Handel. A parte da floresta, dividida em capítulos, não chega a ser assustadora, mas contém cenas de impacto envolvendo violência com genitália, muito sangue e um desespero crescente dos personagens.

Nem Von Trier deve entender os sonhos que teve - e o cinema não precisa mesmo passar pela compreensão. Mas "Anticristo" ainda vai render muito debate nos próximos meses. O filme já tem estreia garantida no Brasil, pela distribuidora Califórnia, mas a data ainda não foi definida.

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