CANNES, França, 19 Mai 2009 (AFP) - "É indispensável recuperar a memória", afirmou o diretor espanhol Pedro Almodóvar, ao aceitar em Cannes que seu filme "Los abrazos rotos", que disputa a Palma de Ouro, tem uma metáfora do que acontece na Espanha.
"É indispensável recuperar a memória. Temos na Espanha uma lei de memória histórica, e gostaria que fosse aplicada com mais rigor do que é aplicada", declarou o cineasta.
O Parlamento espanhol aprovou em 2008 a lei chamada de "memória histórica" de reabilitação das vítimas da Guerra Civil (1936-39) e da dictadura de Franco, concluída em 1975.
"Na vida é impossível renunciar ao passado, à memória. É necessário enfrentá-lo para que os fantasmas do passado não se transformem em uma ferida que não cicatriza nunca", completou, estabelecendo um paralelo com a história do filme exibido nesta terça-feira na mostra oficial de Cannes.
"O cinema aperfeiçoa a vida", declarou Almodóvar, que afirmou ainda considerar essencial a última frase do longa-metragem ("há que terminar os filmes, mesmo que seja às cegas"), antes de defender o respeito aos cineastas como autores e a preservação dos filmes como eles foram concebidos.
Almodóvar, que em "Abrazos rotos" recria como um filme dentro do filme "Mulheres à beira de um ataque de nervos", anunciou que este, além da adaptação para uma série de televisão do estúdio Fox, está sendo adaptado para o teatro e deve virar um musical da Broadway.
Ao ser questionado se desta vez, com o terceiro filme com o qual compete em Cannes (depois de "Tudo sobre minha mãe" e "Volver", pelos quais recebeu respectivamente os prêmios de direção e roteiro), se trata de obter a Palma de Ouro ou nada, Almodóvar respondeu com humor.
"Vou embora de Cannes na sexta-feira para não dar a impressão de que estou esperando um prêmio, mas estou disposto a voltar no domingo (dia da premiação), mas só para entregar um prêmio ao melhor diretor ou ao melhor ator", disse.