O veterano cineasta italiano Marco Bellocchio, conhecido por obras políticas dos anos 60 e 70 como "De Punhos Cerrados", voltou a competir pela sexta vez em Cannes com o drama "Vincere" (Vencer), que conta a vida de Ida Dalser, amante do ditador Benito Mussolini no começo de sua carreira militar.
Com a ascensão do fascismo, Mussolini renega Ida e o filho que teve com ela e casa-se oficialmente com outra, com quem tem outros cinco filhos. Ida, no entanto, não desiste de contar a verdade, esperando ver seu direito reconhecido. Escreve ao Papa, aos jornais, aos políticos. Figura incômoda, acaba internada em um manicômio e fica anos sem poder ver o filho, também chamado Benito.
Bellocchio usa a história de Ida como microcosmo do fascismo, para mostrar até onde a liberdade ficou restrita até o final da Segunda Guerra, e como boa parte dos cidadãos foi no mínimo conivente com o regime. O diretor fez um filme de narrativa clássica, que não traz nenhuma novidade em termos de cinema, mas conta com eficiência essa trágica história.
A montagem frenética leva o filme em ritmo veloz, com as cenas de ficção intercaladas por poderosas imagens de arquivo e ao som de óperas retumbantes que aumentam os ecos da tragédia. Para os fãs de cinema italiano, são recursos que aumentam a força do filme - para os outros, pode parecer muito melodramático.
"Ida faz a sua própria guerra, é uma heroína trágica. Na Itália, temos grandes mártires antifascistas como (o filósofo Antonio) Gramsci, mas queria contar a história de outros mártires menos importantes como ela", explicou Bellocchio.
"Apesar de ser totalmente devotada a Mussolini, Ida é um personagem moderno, quase feminista. Ela adora o filho, mas acaba sacrificando-o em nome da verdade", disse a atriz Giovanna Mezzogiorno, que no ano passado esteve em Cannes com "The Palermo Shooting", de Wim Wenders.
O ator Filippo Timi interpreta Mussolini e anos depois seu próprio filho, que aprende a imitar o pai. "Meu desafio foi tornar humano um personagem tão odiado. É curioso como uma pessoa não pode ser cristã e violenta ao mesmo tempo, mas no caso de um ditador como Mussolini, o fato de afirmar-se cristão só lhe dava mais credibilidade aos olhos do povo".