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20/05/2009 - 13h39

'Eyes wide open': tragédia de um amor impossível entre dois judeus ortodoxos

CANNES - Um filme israelense notavelmente dirigido por Haim Tabakman, "Eyes wide open", que aborda o tema tabu da homossexualidade na comunidade judaica ortodoxa, tornou-se nesta quarta-feira um sério candidato à Câmera de Ouro do Festival de Cannes, prêmio que recompensa uma obra de estreia de um diretor.

Aaron (vivido por Zohar Strauss) é um açougueiro respeitado da comunidade ortodoxa de Jerusalém, um "justo", casado e pai de quatro crianças.

Pouco depois da morte de seu pai, ele encontra Ezri (Ran Danker, conhecido ator israelense), um belo jovem recém-chegado a Jerusalém. Ezri quer estudar. Ele não tem nem casa, nem família. Descobre-se então que ele chegou à cidade para encontrar um homem que amou, mas que o rejeita. Aaron aceita empregá-lo em seu açougue e o abriga no sótão do estabelecimento.

Pouco a pouco, os dois homens descobrem o amor que sentem um pelo outro, apesar da reprovação crescente da comunidade. "Os judeus ortodoxos não dizem nem que o homossexualismo é ruim, eles consideram que não existe", ressalta Haim Tabakman em uma entrevista à AFP.

Aos 34 anos, ele assina este longa metragem, de fotografia irretocável e roteiro apurado, adaptado de uma "tragédia" escrita pelo roteirista Merav Doster há sete anos. O filme foi apresentado na seção "Un certain regard" (Um certo olhar).

Tabakman mostra a atração reprimida de Aaron por Ezri. Convencido da importância "do uso do espaço" na imagem, o cineasta deixa os personagens à distância, separados pelo balcão do açougue como uma barreira invisível.

Depois, fora de Jerusalém, longe da pressão do bairro de Mea Sharim, os dois homens se sentam um ao lado do outro. Em uma cena que revela sua proximidade, cada um coloca seu chapéu preto sobre uma pedra ao lado deles. Os corpos se aproximam e depois se tocam em um banho ritual no sótão do açougue.

"Utilizei longos planos sequenciais para as cenas de amor. Quando você vê os dois homens ortodoxos com suas barbas se tocarem, há então um sentimento estranho, mas quando a cena se prolonga, você pode sentir toda humanidade e a beleza que nasce", indica o diretor, autor de dois curtas-metragens.

Mas a ameaça não está longe. De uma janela, uma vizinha observa. Relatos anônimos denunciando "uma infâmia" circulam pelo bairro.

Será que judeus ortodoxos, que não têm, a princípio, o direito de ver filmes, assistirão a "Eyes wide open"? "Espero que sim", disse Tabakman, para aqueles que vivem uma vida dupla.

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