Ficou lotada a sessão especial do primeiro longa-metragem do carioca Eduardo Valente, "No Meu Lugar". Valente tem boas relações com o festival. Seu primeiro curta, "Um Sol Alaranjado", venceu a mostra Cinéfondation em 2002, quando o presidente do júri era ninguém menos que Martin Scorsese. Depois, ainda voltou à Croisette com outros dois curtas, "Castanho" (2003) e "O Monstro" (2006).
ASSISTA AO TRAILER DE "NO MEU LUGAR"
Em meio a uma agenda complicada, o diretor artístico do festival, Thierry Frémaux, fez questão de apresentar a sessão e dizer algumas palavras sobre Valente. Lembrou que o filme é produzido pela VideoFilmes, de Walter Salles, que foi convidado ao festival, mas não pôde vir. Valente veio acompanhado de um dos roteiristas, Marco Dutra, e da atriz principal do filme, Dedina Bernardelli.
Ao final da sessão, a recepção para foi modesta. O filme conta em paralelo a história de três famílias. As narrativas são amarradas por um sequestro que termina em tragédia. Cada história se passa em um tempo diferente: antes do acidente, a vida de um entregador de pizza negro que começa a namorar a empregada da casa; depois do acidente, um tenente tenta continuar sua vida depois do trauma. Alguns anos depois, a viúva do homem morto no tal acidente tenta refazer a vida, mas entra em conflito com a sogra sobre a venda da casa.
"No Meu Lugar" quer construir ao mesmo tempo um retrato social da classe média baixa no Rio de Janeiro e um jogo sobre os diferentes tempos, reforçado pelos recursos do cinema. O filme, porém, esbarra em várias deficiências: diálogos sem força, uma montagem frouxa, fotografia pobre, atuações fracas - com exceção de Bernardelli (a viúva) e Raphael Sil (o entregador).
A estrutura não permite empatia com os personagens, e o retrato pálido da vida e da violência em uma cidade grande não oferece novidade em relação a filmes recentes, como "Linha de Passe', de Walter Salles.