Mateo Sancho Cardiel.
Cannes (França), 24 mai (EFE).- Não houve grandes surpresas na distribuição dos prêmios do Festival de Cannes: "Das weisse Band" ("A Fita Branca", em tradução livre), do austríaco Michael Haneke, confirmou seu favoritismo ao receber hoje a Palma de Ouro do evento, cujo júri também premiou o polêmico "Anticristo", de Lars Von Trier.
A atriz Isabelle Huppert, presidente do corpo de jurados, sequer precisou justificar por que deu o prêmio máximo do festival a um velho amigo que a tem como musa e que a fez estrelar seus sucessos "A Pianista" e "O Tempo do Lobo".
"Das weisse Band", a apavorante parábola que Haneke ambienta no período pré-Primeira Guerra, já tinha ganho ontem o prêmio da crítica internacional, o que reforçou a favoritismo do diretor, sobretudo porque, quando isso aconteceu em 2001 ("A Pianista") e em 2005 ("Escondido"), ele não levou o prêmio
"A felicidade é uma coisa rara", disse o habilidoso observador da natureza humana. "Mas posso dizer que, neste momento, sinto-me orgulhoso", acrescentou Haneke ao receber a distinção.
Outro forte concorrente à Palma de Ouro, "Un Prophèt", em que o diretor francês Jacques Audiard pinta o aterrorizante retrato de um adolescente que entra na prisão e acaba se tornando um carismático criminoso, acabou ficando com o grande prêmio do júri, o segundo mais importante de Cannes.
O que poucos esperavam é que dois filmes médios de diretores já premiados no festival acabassem levando os prêmios de interpretação.
Foi o que aconteceu com "Anticristo", cuja protagonista, a francesa Charlotte Gainsbourg, foi escolhida melhor atriz, e com "Bastardos Inglórios" (Quentin Tarantino), que teve o ator austríaco Christoph Waltz premiado.
O júri desta edição, óbvio em relação aos dois maiores prêmios, também voltou a prestigiar o cinema asiático. Surpreendente, o filipino Brillante Mendoza foi considerado o melhor diretor do festival, graças ao seu trabalho em "Kinatay", um perturbador retrato em tempo real do sequestro e das torturas sofridas por uma prostituta.
Por sua vez, Lou Ye, que em 2005 escandalizou o Governo chinês ao burlar a censura e apresentar em Cannes "Summer Palace", viu sua nova produção, "Spring Fever", uma história de amor homossexual rodada na clandestinidade com a ajuda de produtores franceses, ser agraciada com o prêmio de melhor roteiro, escrito por Feng Mei.
Além disso, o coreano Park Chan-wook, que não tinha convencido a imprensa especializada com sua original visão do mundo dos vampiros em "Thirst", recebeu o prêmio do júri, que dividiu com "Fish Tank", da inglesa Andrea Arnold.
Na cerimônia de encerramento do festival, o júri aproveitou os 50 anos do clássico "Hiroshima mon amour" e homenageou o francês Alain Resnais com um prêmio por toda a sua carreira.
E quem ficou de fora da lista de premiados foi o espanhol Pedro Almodóvar, que apresentou "Os Abraços Partidos", estrelado por Penélope Cruz.
Este ano, o Festival de Cannes premiou ainda o curta "Arena", do português João Salaviza, e "Samson and Delilah", cuja diretora, a australiana Warwick Thornton, ganhou a Câmera de Ouro de melhor revelação com o primeiro filme aborígine exibido em Cannes.