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Festival de Cannes 2010

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13/05/2010 - 10h10

Ator e diretor francês abre Competição de Cannes com turnê de strip-tease

THIAGO STIVALETTI
Colaboração para o UOL, de Cannes
  • Cenas do filme ''Tournée'' (''On Tour''), de Mathieu Amalric, exibido no Festival de Cannes de 2010

    Cenas do filme ''Tournée'' (''On Tour''), de Mathieu Amalric, exibido no Festival de Cannes de 2010

Coube à própria França abrir a Competição de Cannes com o filme “Tournée”, do ator e diretor Mathieu Amalric. No Brasil, Amalric é conhecido como o vilão do último 007, “Quantum of Solace”. Os frequentadores do Festival do Rio e da Mostra de São Paulo podem lembrar dele dos filmes franceses - o sujeito lunático de “Reis e Rainha” ou o irmão ovelha negra da família em “Um Conto de Natal”.

Amalric é para a França o que Selton Mello ou Wagner Moura é para o Brasil – um ator charmoso (não exatamente belo) que une talento e erudição, um intérprete de muitos recursos e com muitas ideias na cabeça. Como Selton, ele também atua como diretor.

Em “Tournée”, seu quarto filme como cineasta, ele encarna Joachim, um ex-produtor francês de TV que largou tudo para dirigir uma companhia de strip-tease burlesco nos EUA. Sem saber muito bem o que procura, faz uma volta às origens e leva toda a companhia para uma turnê pela França. É um homem deslocado, que despreza o dinheiro, mas também sabe que não trabalha com a grande arte. Concentra seu afeto nas dançarinas americanas da companhia – vividas por profissionais de verdade, que atendem na vida real por nomes como Dirty Martini, Roky Roulette, Kitten on the Keys e Evie Lovelle. (Com esses nomes – e corpos exuberantes –, elas estão roubando os holofotes em Cannes.) No meio do caminho, Joachim se vê obrigado a cuidar sozinho dos filhos pequenos, de quem nem lembra direito a idade.

“Tournée” era muito aguardado porque Amalric não reza pela cartilha consagrada do cinema francês – dramas “burgueses”, diálogos elaborados, conflitos amorosos. Seu filme tem um frescor de diretor jovem – uma mistura de cores belíssima, diálogos estranhos que às vezes não começam nem terminam direito, cenas poderosas que podem não ter muito a ver com o resto da história. Ele faz uma clara homenagem a John Cassavettes (1929-1989), pai do cinema independente americano, ator e diretor como ele, especialmente a filmes seus como “A Morte de um Bookmaker Chinês” (cujo protagonista mantém um show decadente), “Noite de Estreia” (a ansiedade dos bastidores de um espetáculo) e “Amantes” (a relação entre pai ausente e filho pequeno).

O resultado é ousado e muito interessante, mas Amalric parece se interessar mais por seu personagem do que pelo filme. As dançarinas, mulheres que poderiam estar num filme de Fellini, não chegam a se completar como personagens. E os conflitos que poderiam explodir no filme passam meio ao longe. É uma opção do diretor, mas o colorido de cabaré de “Tournée” não chega a envolver o espectador como poderia.

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