Nuria Vicedo Berlim, 13 fev (EFE).- O filme que marca a estreia do colombiano Óscar Ruiz de Navia, "El vuelco del Cangrejo" ("A reviravolta do Caranguejo", em tradução livre), mostrou hoje no Festival de Berlim a fábula de um homem, em plena estagnação vital e existencial, preso em um pequeno povoado do Caribe, incapaz de reorientar seu rumo.
No meio do caminho entre o real e o fictício, o filme, que está fora de concurso no festival, narra o dia-a-dia da Barra, uma pequena localidade litorânea do norte da Colômbia, à qual chega uma jovem com a esperança de obter uma passagem de navio que o tire do país.
O projeto, que surgiu há cinco anos, começou depois de uma visita do próprio Navia à região. O diretor decidiu retratar na grande tela a cotidianidade da Barra pelos olhos de um forasteiro.
"O filme é uma reconstrução das minhas próprias memórias. Cavalga nessa ambígua linha que existe entre a realidade e a ficção", explicou à agência Efe.
À exceção de dois atores, o resto do elenco é de moradores do lugar, entre os quais se destaca Arnobio Salazar Rivas, conhecido como "Cérebro", homem sábio da aldeia, e Gisela, uma menina que segue o protagonista por todos os lados tentando vender-lhe comida.
"O protagonista permanece preso no lugar. Não pode ir nem para frente nem para trás, como um caranguejo que foi colocado de ponta cabeça", explicou, em alusão ao título do filme.
O filme expõe a contradição entre os desejos de fuga do personagem e a profunda apatia do entorno estimulada pelo repouso caribenho, que imprime seu ritmo pausado a toda a obra.
Navia, de 27 anos, deixa fora os dramas pessoais dos personagens para concentrar-se no antes e depois dos conflitos, dotando seu protagonista de uma grande melancolia, afastada do protótipo de herói cinematográfico.
"Não é o herói que salva o povo. Isto não é Hollywood", disse, sobre seu desorientado personagem.
"El vuelco del Cangrejo" não esquece o conflito armado da Colômbia, mas o relega sugestivamente a apenas alguns segundos, nos quais, de fundo, são ouvidas notícias relacionadas com a violência em uma televisão.
"Não queria mostrar o sangue, nem o conflito em si. Interessa-me mais a linguagem metafórica que ajuda a colocar perguntas ao invés de dar respostas", assinalou o cineasta.
O filme, que será exibido nos festivais de cinema de Miami, Cartagena (Colômbia), Buenos Aires e Freiburg (Alemanha), é, para seu diretor, uma amostra exemplo do novo cinema que está surgindo na Colômbia.
"A Colômbia tem todas as condições para fazer um bom cinema, mas ainda é necessário haver filmes mais fortes e com mais personalidade de um ponto de vista estético e narrativo", acrescentou.