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16/02/2010 - 16h12

Diretora brasileira registra em "Budrus" colaboração pacífica entre palestinos e israelenses

ALESSANDRO GIANNINI
Enviado especial a Berlim
  • Divulgação

    Cena do documentário ''Budrus'', dirigido pela brasileira Julia Bacha

De todos os filmes selecionados para o 60o. Festival de Berlim envolvendo brasileiros, "Budrus" poderia passar despercebido, tanto pelo nome, quanto pela nacionalidade e, mais ainda, pelo tema. Assinado pela brasileira Julia Bacha, radicada em Nova York, mostra como o líder comunitário de uma cidade próxima da fronteira entre a Cisjordânia e Israel conseguiu, em 2003, mobilizar a população local, uma parcela considerável de cidadãos israelenses progressistas e representantes de organizações internacionais em torno de protestos não-violentos contra a construção de um chamado "Muro de Segurança" pelas autoridades israelenses. O título faz parte da paralela panorama Dokumente e teve sua primeira exibição em Berlim na noite de segunda (15), com uma boa resposta do público.

Ayed Morrar é o personagem principal de "Budrus", um pacato chefe de família e líder comunitário que consegue reunir lideranças palestinas tradicionalmente rivais e de perfil mais combativo como a Fatah e o Hamas em torno de um objetivo comum e alinhados em uma postura não-violenta. Uma das filhas de Morrar, Iltezan, também ascende como protagonista quando, a certa altura, sugere ao pai a participação das mulheres nos protestos. A mobilização dos cidadãos, os protestos, a participação dos israelenses e de organizações não-governamentais são registrados em uma narrativa que inclui início, meio, climax (os confrontos entre as forças israelenses e os manifestantes) e desfecho (a decisão, histórica, de rever as fronteiras do "Muro de Segurança" israelense). É uma história real muito bem contada, ainda que excessivamente pontuada por uma trilha sonora muitas vezes dispensável.

  • Divulgação

    A diretora Julia Bacha dirige o filme ''Budrus''

"Budrus" pode parecer parcial se, por um lado, assume desde o primeiro plano o ponto de vista de Morrar. Por outro, no entanto, não deixa de dar voz e registrar o comportamento dos israelenses, desde as forças em terra até as autoridades envolvidas, passando inclusive pelos cidadãos que atravessam a fronteira para se juntar às manifestações e protestos dos palestinos. Há depoimentos de uma soldado israelense, Yasmina, que faz parte da força de apoio à construção do Muro. E do capitão Doron Spielman, porta-voz do Exército israelense e comandante da operação. É ele quem diz, a despeito do resultado dos protestos e da revisão do plano israelense, que "a decisão de rever o traçado do Muro foi exclusivamente política e não teve nada a ver com esses eventos isolados".

Bacha e os editores trabalharam com material de diferentes fontes, o que dá ao documentário um aspecto irregular. Mas são imagens significativas e fortes o bastante para justificar seu uso a despeito da qualidade. Nos letreiros finais, muitas lacunas são preenchidas, como a localização temporal dos protestos e o destino de cada um dos personagens envolvidos. A produção é assinada pela Just Vision, organização não-governamental do qual a diretora brasileira faz parte. O objetivo da Ong é "contar histórias que não chegam aos telejornais". Mas são histórias de palestinos e israelenses que trabalham em soluções não-violentas para o conflito ancestral entre os povos.

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