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17/02/2010 - 11h11

Filme sobre jovens muçulmanos na Alemanha estremece a Berlinale

  • Getty Images

    O ator Jeremias Acheampong, a atriz Maryam Zaree, o diretor Burhan Qurbani e o ator Carlo Ljubek mostram animação ao apresentar o filme ''Shahada'' no 60º Festival de Berlim

O cineasta alemão de origem afegã Burhan Qurbani apresentou nesta quarta-feira na Berlinale o filme "Shahada" (A fé), na disputa pelo Urso de Ouro, a história de três jovens muçulmanos de Berlim que têm a fé e sua espiritualidade submetidas a um duro teste na sociedade alemã contemporânea.

Burhan Qurbani, nascido na Alemanha e filho de pais afegãos, explora em "Shahada", seu primeiro longa-metragem, as contradições e problemas de Maryam (Maryam Zaree), Ismail (Carlo Ljubek) e Sammi (Jeremias Acheampong), dentro e fora da comunidade muçulmana de Berlim.

Maryam vive como uma despreocupada jovem alemã e frequenta festas noturnas até o dia em que engravida e decide abortar. O pai dela é o imã de uma mesquita berlinense e a religião parece ter absorvido tanto de sua vida que descuidou da relação com a filha.

Ismail, de origem croata, é um policial alemão casado com uma loura germânica, com quem tem um filho. Ele tem uma vida normal até que o passado volta para atormentá-lo: há alguns anos, em um "acidente de trabalho", ele feriu uma jovem muçulmana. Quando esta é detida por um problema nos documentos, Ismail a ajuda e nasce uma história de amor que o leva a deixar a mulher.

Sammi tem origem nigeriana e trabalha na peixaria de um supermercado onde um jovem alemão se apaixona por ele. No início ele nega a homossexualidade, que segundo ele é incompatível com o Islã, mas aos poucos, após pedir os conselhos de um imã - idealmente tolerante - aceita sua opção.

"Meu filme não é um drama social, nem um documentário. Quis levar as personagens ao limite do que podiam suportar. Saber como deveriam se comportar com suas crenças. Eu sou muçulmano e sou alemão e há grande parte de minha vida no filme, minhas dúvidas, saber se sou ou não um bom muçulmano, se aqui na Berlinale devo beber água ou champanhe. Hoje beberei uma taça de champanhe", afirmou o diretor.

Os temas apresentados em "Shahada" - a religião do Alcorão, a homossexualidade e a emancipação das mulheres muçulmanas - abalaram os jornalistas alemães, que fizeram muitas perguntas durante a entrevista coletiva após a exibição.

"Os muçulmanos não são apenas os árabes barbudos. Cada país define o Islã. Na Alemanha não existem apenas muçulmanos turcos e árabes, também há nigerianos e bósnios. Maryam Zaree e Carlo Ljubek são croatas. Deus ama todas as cores, todos os rostos, a diversidade", declarou Qurbani.

"Ser um homossexual muçulmano é difícil em muitos países. E também é na Alemanha. Meu filme é sobre a tolerância, a possibilidade de aceitar que cada um seja feliz a sua própria maneira. O amor é geral e não pode ser restrito a uma só forma", completou.

Qurbani reconheceu apenas com a educação, informação e o diálogo crítico será possível lutar contra o obscurantismo e a radicalização de algumas correntes do islã.

"A comunidade muçulmana deve sair ela mesma do obscurantismo. Devemos nos questionar o porquê de rezarmos todo dia, este é o trabalho dos homens instruídos", disse.

A atriz Maryam Zaree reivindicou a nacionalidade alemã e a origem de sua família.

"Somos 100% alemães, mas no início éramos imigrantes. Formamos parte deste país. Apesar de nossos pais terem vindo de outros países, nós nos sentimos completamente alemães", disse.

Qurbani afirmou esperar que o filme tenha grande divulgação, sobretudo nas escolas alemãs.

"A intolerância vem da ignorância. Sabe-se pouco de nossa religião. As pessoas têm medo dos muçulmanos, principalmente pelo que leem nos meios de comunicação. No entanto, os alemães vivem cercados de muçulmanos: o taxista, o vendedor de kebab, talvez o psicólogo ou o dentista. Meu filme é contra o medo, contra os mal-entendidos", concluiu.

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