BERLIM (Reuters) - O Irã impediu que um diretor de cinema viajasse na terça-feira para o festival de cinema de Berlim, no mesmo dia em que um drama e um documentário sobre o país foram exibidos na cidade alemã, informaram organizadores do evento.
Segundo eles, a proibição da viagem foi imposta sobre Jafar Panahi, vencedor de diversos prêmios internacionais, inclusive o principal prêmio do festival de cinema de Veneza por "O Círculo" em 2000.
"É ridículo pensar que se pode impedir pessoas de dizerem o que pensam", disse o diretor iraniano Rafi Pitts após a exibição de seu filme sombrio "The Hunter" (o caçador).
"Acredito na liberdade de expressão... Acredito que as pessoas deveriam ter o direito de viajar para onde quiserem, acredito que ele deveria estar aqui", disse Pitts em coletiva de imprensa.
"The Hunter" e o documentário "Red, White & the Green", de Nader Davoodi, foram exibidos no mesmo dia, relembrando os protestos após as disputadas eleições presidenciais do Irã no ano passado.
Pitts disse que "The Hunter" tinha a intenção de levantar questões mais do que ser uma afirmação política.
O filme conta a história de um homem cuja esposa é morta em uma troca de tiros entre a polícia e manifestantes em Teerã. Levado ao desespero pela angústia e desejo de vingança, ele enlouquece e atira em dois policiais com sua arma de caça.
Policiais o perseguem na floresta e o prendem mas se perdem e a situação se torna mais agressiva e violenta. Aos poucos, se torna difícil distinguir entre os caçadores e os caçados, os bons e os maus.
Pitts disse que queria mostrar como pessoas que são empurradas até o limite podem se tornar bombas em contagem regressiva. Ele descreveu a juventude iraniana como "uma geração preparada para morrer pois não tem nada a perder".
Essa geração é o foco do documentário "Red, White & the Green" de Davoodi, filmado com uma câmera de mão durante as três semanas que antecederam as eleições de junho.
Um dos aspectos mais marcantes do filme, em que iranianos comuns discutem suas esperanças e medos para as eleições e o país em geral, é a grande sensação de otimismo compartilhada pelas pessoas nas ruas de Teerã.
Nas semanas que seguiram as eleições presidenciais, confrontos violentos surgiram, e segundo opositores do presidente reeleito Mahmoud Ahmadinejad, cerca de 70 pessoas morreram e milhares foram detidos.