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18/02/2010 - 15h39

Em Berlim, jovens diretoras e atrizes tarimbadas disputam Ursos

ALESSANDRO GIANNINI
Enviado especial a Berlim
  • Getty Images

    Os atores Zrinka Cvitesic e Leon Lucev participam do 60º Festival de Berlim com o filme ''On The Path''

Demorou para acontecer, mas as mulheres finalmente ocuparam espaço nos filmes em competição no 60o. Festival de Berlim. Nesta quinta (18), foram exibidos dois títulos dirigidos por jovens diretoras, com personagens principais femininas muito fortes e interpretações que podem valer o prêmio de atriz.

"On The Path" é o segundo longa-metragem da diretora bósnia Jasmila Zbanic e mostra o desmoronamento de uma relação sob o ponto de vista de uma mulher, a atriz Zrinka Cvitesic. Zbanic ganhou o Urso de ouro em 2006 com o seu trabalho de estreia, "Grbavica - Em Segredo", sobre um grupo de mulheres bósnias que haviam sido estupradas durante a Guerra dos Bálcãs.

"Rompecabezas" marca a estreia na direção da argentina Natalia Smirnoff, que começou carreira como diretora de elenco e assistente de direção de nomes como Pablo Trapero e Lucrécia Martel. Toda a narrativa se sustenta na performance quase minimalista de Maria Onetto, no papel de uma mulher de 40 e poucos anos completamente dedicada ao marido e aos dois filhos.

São dois filmes de perfis muito diferentes. Ambos têm narrativas lineares, mas recorrem a estratégias diferentes para contar suas histórias. Enquanto "On The Path" assume uma estrutura mais convencional para mostrar como as diferenças religiosas e o fundamentalismo podem ser nocivos para um casal que compartilha as mesmas crenças, "Rompecabezas" aposta no radicalismo para expor os sentimentos de Maria de Carmen, uma mulher de 40 e poucos anos que, no auge de um casamento enregelado pelo tempo, descobre vários prazeres.

"On The Path" toca em um tema candente para a comunidade bósnia, que é a convivência, após a guerra, entre os muçulmanos laicos e os fundamentalistas radicais. Isso deve ser levado em consideração quando o presidente do júri é um cineasta como Werner Herzog, cujos filmes narrativos invariavelmente passam por temas relacionados ao assunto da guerra e suas consequências para o ser humano.

Questionada sobre as primeiras reações ao filme na Bósnia e se acha que ele pode levar a transformações no modo de pensar das pessoas, Jasmila Zbanic disse que a première nacional será em 25 de fevereiro. "Só então é que teremos uma noção real de como repercutiu", disse ela. "De qualquer forma, acho que o primeiro passo é colocarmos o que somos no espelho e para que possamos ver o que percebemos. Acho que se o filme me fizer rever conceitos e mudar a minha maneira de pensar é o que basta. Só posso esperar que faça o mesmo com outras pessoas."

"Rompecabezas" usa a metáfora do jogo de quebra-cabeças para mostrar como uma dona-de-casa consumida pela total dedicação ao marido e os filhos reconstroi do zero seu papel na família e sua própria identidade. Para levar essa história, Natalia Smirnoff escolheu Maria Onetto para o papel principal por achá-la "indispensável ". As duas se conheceram no set de "El Otro", de Ariel Rotter, período em que o roteiro do filme de Smirnoff estava sendo escrito. "Eu contei a história e ela se prontificou a fazer o papel, pelo qual teve que esperar muito tempo", disse a diretora, na entrevista coletiva desta tarde. "Foi uma escolha muito natural, porque ela se encaixa perfeitamente no perfil de Maria del Carmen e tinha uma experiência de palco e no cinema que me parecia importante."

Das duas atrizes, só a bósnia Zrinka Cvitesic veio a Berlim. Maria Onetto ficou na Argentina. "Ela tinha compromisso com uma peça de teatro e teria que ficar muitos dias fora se viesse para cá", explicou a diretora.

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