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19/02/2010 - 16h33

Berlinale: violência no cinema é uma catarse, diz Winterbottom

O diretor britânico Michael Winterbottom defendeu a violência de seu filme "The killer inside me" ("O assassino dentro de mim", numa tradução livre), apresentado nesta sexta-feira na competição pelo Urso de Ouro da Berlinale, afirmando que, por ser "chocante", pode servir de "catarse" ao espectador.

"The killer inside me", uma adaptação do romance homônimo de Jim Thompson, publicado em 1952, é a história de um policial psicopata do Texas, Lou Ford - interpretado por Casey Affleck -, que mantém relacionamentos simultâneos com duas mulheres, vividas por Jessica Alba e Kate Hudson.

Lou Ford é filho de um boa família texana, que herdou de seu pai uma grande casa repleta de livros. Às vezes, ouve óperas. Através de algumas sequências em flashback, o espectador descobre alguns traumas de sua infância: sexo e violência.

"No livro, o pai é um médico. No filme, a música clássica substitui o pai. Eu procurava uma cadência, um ritmo. O filme é narrado de seu ponto de vista, e eu associei a música aos assassinatos", explicou Winterbottom.

O filme foi rodado em Oklahoma, no Novo México e no Texas, mesmos lugares onde a história contada por Jim Thompson acontece. "Esse livro me impressionou muito. Thompson escreve o pior sobre seus personagens. É algo shakespeariano que não está ligado à realidade. Tudo o leva ao extremo", disse.

"Me senti purificado depois de lê-lo. Essa violência extrema pode servir de catarse. A violência é chocante. Não acredito que ninguém, depois de ler o romance ou sair do cinema, tenha vontade de fazer o mesmo que Lou Ford. O que me levou a adaptá-lo é que tudo está muito bem descrito e os diálogos são muito bons", acrescentou o diretor.

Winterbottom, que ganhou o Urso de Ouro em 2003 com seu drama sobre refugiados "Neste mundo" ("In this world"), precisou se defender na entrevista coletiva após a exibição de "The killer inside me", quando foi praticamente acusado de deleitar-se com uma violência gratuita e machista, já que o xerife psicopata mata suas duas amantes a facadas e golpes sem nenhuma razão.

"O romance é narrado em primeira pessoa. É a versão que o xerife tem dos fatos. Ele está apaixonado por suas duas mulheres, mas sabe que vai matá-las. E quando faz isso, se sente feliz", explicou.

"Penso que, se alguém vai ver o meu filme e acha que é uma maneira de justificar ou incentivar a violência contra as mulheres, é porque o viu de uma maneira perversa", disse Winterbottom, de 48 anos, conhecido pelas produções "O preço da coragem" ("A mighty heart"), com Angelina Jolie, e "Caminho para Guantánamo" ("The road to Guantánamo").

O diretor definiu seu filme como "um melodrama sobre o comportamento de um homem que não é feliz, alguém vulnerável, fraco, e por isso muito destruidor. Alguém que não ama a si próprio".

"Seu personagem é uma pessoa repugnante, e nisso tentei ser fiel ao livro de Thompson", destacou.

"Há uma violência contra as mulheres e os homens nos livros, nos filmes e em geral na sociedade atual. É necessário que, ao mostrar a violência na tela, ela pareça repugnante. A violência contra as mulheres sempre existiu e me parece um tema digno de ser tratado", concluiu.

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