Ser o primeiro festival europeu de grande porte do calendário tem suas vantagens e desvantagens. Nos últimos anos, no entanto, o Festival de Berlim, que começa nesta quinta-feira (5) e se estende até o dia 15, passou ao largo das primeiras e tem se concentrado em se desviar das últimas.
Desde que assumiu o cargo de diretor geral do evento, há oito anos, Dieter Kosslick enfrentou seguidas crises internacionais provocadas por ataques terroristas (11 de setembro de 2001) e guerras (Guerra do Iraque). Nesta 59ª edição, foi alvo da quebradeira geral no sistema financeiro.
Naomi Watts e Clive Owen estão em "Trama Internacional", que abre o Festival de Berlim |
Como manda o manual do bom diretor de festival de cinema, Kosslick não se deixa abater por esses problemas. Usa-os a seu favor. Não por acaso, a mostra competitiva traz uma seleção em que a crise se destaca. A começar pelo filme de abertura, o thriller de ação "
Trama International", do diretor alemão Tom Tykwer ("Corra, Lola, Corra").
Com Clive Owen no papel de um agente da Interpol e Naomi Watts no de uma advogada novaiorquina, a trama se desenvolve a partir da investigação de um grande banco internacional e suas ligações perigosas.
Em recente entrevista à Variety, um dos "órgãos oficiais" da indústria americana de cinema, Kosslick citou vários outros filmes que de alguma forma apontam para a crise ou tematizam-na. São eles "The Messenger", de Oren Moverman; "Storm", do alemão Hans-Christian Schmid, e "Mammoth", de Lukas Moodysson, com Gael García Bernal e Michelle Williams. Nessa mesma entrevista, o diretor do festival colocou ênfase na expectativa com relação a este último, que conta a história de um viciado em trabalho que vai passar férias na Tailândia.
Depois de vencer a mostra competitiva de Berlim em 2008 com "Tropa de Elite", José Padilha apresenta o documentário "Garapa" na mostra Panorama |
Tradicionalmente um festival que privilegia filmes de arte e experimentais, Berlim não se desfaz de suas raízes. A mostra competitiva reúne títulos de diretores veteranos, como Stephen Frears ("Cheri"), Bertrand Tavernier ("
In The Electric Mist") e Andrzej Wajda ("Sweet Rush"); dos "queridinhos do circuito dos festivais, como Chen Kaige ("Forever Enthralled") e François Ozon ("
Ricky"), além de três estreantes, o uruguaio Adrian Biniez ("Gigante"), Brit Peter Strickland ("
Katalin Varga") e Oren Moverman ("The Messenger").
Berlim e o OscarDesde 2004, quando a Academia de Hollywood antecipou em um mês o anúncio dos indicados e a cerimônia de entrega dos Oscar, o Festival de Berlim tem enfrentado problemas com o cinemão comercial americano, também chamado "mainstream".
Longe de ser um problema, o anúncio dos indicados no meio do festival era uma chance de dar destaque aos filmes que estavam presentes e colocá-los ainda mais sob os holofotes da mídia especializada. Hoje em dia, com a antecipação dos indicados, ficou mais difícil atrair esses grandes títulos para a seleção.
Ainda assim, há na seleção oficial e em mostras paralelas a presença de filmes que estão na corrida do Oscar e usam o festival como uma plataforma de promoção internacional. "
O Leitor", de Stephen Daldry, com Kate Winslet no papel de uma alemã que trabalhou como guarda dos campos de concentração, é um deles.
Outro é "
Milk - A Voz da Igualdade", de Gus Van Sant, com Sean Penn interpretando o congressista e ativista gay Harvey Milk. Os estúdios responsáveis por ambos os filmes trabalham com empenho para fazer com que os artistas que irão ao festival falem com os jornalistas.
BrasilO Brasil não está presente na mostra competitiva - os únicos filmes latinoamericanos concorrentes são "Gigante", do estrante uruguaio Adrian Biniez, e "La Teta Asustada", da peruana Claudia Llosa -, mas está na mostra Panorama, com "
Vingança", de Paulo Pons, e o documentário "Garapa", de José Padilha. É a segunda sessão mais importante do festival, destinada aos trabalhos mais experimentais e artísticos.