O cinema iraniano deu o ar da graça no terceiro dia do Festival de Berlim. "Darbareye Elly" (Sobre Elly), de Asghar Farahdi, foi o primeiro filme do terceiro dia a ser exibido para os jornalistas. Não se trata de uma produção iraniana típica, da linhagem de Abbas Kiarostami e Mohsen Makhmalbaf - velhos conhecidos dos frequentadores da Mostra de São Paulo. No que diz respeito ao formato, parece se enquadrar mais nos cânones e modelos ocidentais. É uma primeira impressão enganosa.
Um grupo de casais amigos se reúne para passar três dias na praia. Uma das mulheres quer promover o encontro entre um casal de amigos que supostamente são solteiros, livres e desimpedidos. Elly (Taraneh Alidousti) é professora e Ahmed (Shahab Hosseini) mora na Alemanha e está de passagem pelo Irã para rever a família e os amigos. Mais uma vez, nem tudo é o que parece e uma série de eventos acaba por transformar um fim de semana extenso em um pesadelo com toques de tragédia.
"Darbareye Elly" não eletrizou, nem sensibilizou a maior parte dos seus primeiros espectadores. Uma das razões é a confusão em que se transforma a trama a partir do momento em que um acidente acontece e a perspectiva de uma tragédia ainda maior se instala na casa da praia. Antes que o fio da meada seja retomado e a verdadeira questão do filme se instale, muito tempo foi perdido com sequencias inteiras sem sentido. A temática que interessa nessa história é o limite entre o certo e o errado, a verdade e a mentira, o discurso direto e as tergiversações.
Farahdi, que com "Darbareye Elly" faz sua estreia no Festival de Berlim, defendeu o filme dizendo que certos clichês morais não se aplicam a todas as pessoas. Ele faz referência a uma cena em que se discute se o grupo diz ou não a verdade sobre a convidada para o rapaz que diz ser irmão dela, mas que na verdade é seu noivo. "O fato de ela ter ido viajar com o grupo de amigos sem o noivo não é estranho à cultura iraniana", completou. "Mesmo assim, todas as pessoas a julgam."