Berlim - O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, esteve hoje no Festival de Berlim em "Letters to the President", um controverso documentário do tcheco-canadense Petr Lom que apresenta o líder de Teerã e seu regime através das cartas do povo.
O exílio iraniano tinha pedido a cabeça do diretor do festival, Dieter Kosslick, por programar um filme que, na concepção deles, dá uma versão "humana" demais de Ahmadinejad, como herói venerado de um povo que escreve cartas ao presidente expressando desejos particulares ou aspirações de prosperidade para a República.
"Letters to the President" finalmente estreou hoje, na seção Fórum, com a seção de exibição à imprensa lotada.
O documentário, de 74 minutos, projeta as cartas que milhões de iranianos que escrevem ao líder tendo como pano de fundo a campanha eleitoral de 2008.
Ahmadinejad chegando a um povoado poeirento em um carro branco comum, próximo a seu povo, sendo recebido por seus compatriotas, ou em um grande comício em Teerã, entre mostras de fervor popular sem limites.
"Morra América, morra Israel, temos direito à bomba atômica", são as palavras mais frequentes, na aldeia afastada ou na capital. O discurso de Ahmadinejad é o mencionado: ataques a Israel, aos Estados Unidos e apoio ao povo palestino.
Os iranianos se aproximam do líder para entregar as cartas ou as remetem a guardiões. Até aí não há nada particularmente transgressor nem que possa ser qualificado de mera propaganda.
Lom foi autorizado pelo próprio regime a filmar essas cenas. De outro modo, não haveria filme. Aí é onde se sustentam as suspeitas do exílio: como um cineasta desconhecido, nascido em 1968 em Praga e estabelecido no Canadá, conseguiu essa permissão?
Para o exílio, há duas opções: ou Lom é uma pessoa usada pela propaganda iraniana, ou faz parte dela. De qualquer forma, para a oposição ao regime de Teerã, o filme não deveria estar no festival.
O filme, definitivamente, nem idealiza nem humaniza o líder. Poucos dos iranianos que falam às câmeras se atrevem a fazer mais que veladas críticas ao presidente.
Somente dois jovens de Teerã se atrevem a dizer que as cartas não são lidas por Ahmadinejad, e sim pelo irmão do líder. Outro vai além e critica a falta de liberdades civis do país.