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14/02/2009 - 19h06

O filme "La teta asustada" leva o Urso de Ouro em Berlim

BERLIM, Alemanha, 14 Fev 2009 (AFP) - O filme "La teta asustada", da peruana Claudia Llosa, ganhou neste sábado o Urso de Ouro da 59a. edição do Festival de Berlim, enquanto que o Urso de Ouro de melhor direção foi para o iraniano Iraní Asghar Farhadi por "About Elly".

A produção foi escolhida por unanimidade pelo júri presidido pela atriz escocesa Tilda Swinton.

"Que maravilha! Eu agradeço ao júri", afirmou a cineasta, roteirista e produtora peruana, ao receber o prêmio.

"Quero agradecer a minha mãe, a todas as mulheres a a vocês. Dedico este prêmio a minha mãe e ao Peru", declarou, por sua vez, a atriz principal do filme, Magaly Solier, que também cantou na cerimônia em dialeto quíchua.

A austríaca Birgit Minichmayr, 31 anos, ganhou o Urso de Prata de melhor atriz por seu papel em "Alle Anderen" (Todos os outros), do alemão Maren Ade, e ator malinês Sotigui Kouyaté, 72 anos, protagonista do filme "London River", do franco-argelino Rachid Bouchareb, levou o Urso de Prata de sua categoria.

Em "London river", que conta a história de um muçulmano e uma cristã cujos filhos morreram nos atentados de 7 de julho de 2005 em Londres, Sotigui Kouyaté, um conhecido ator do Mali descoberto por Peter Brook, vive Ousmane, um guarda florestal muçulmano que há muito não vê seu filho. Elisabeth, interpretada pela atriz britânica Brenda Blethyn (de "Orgulho e Preconceito"), é uma cristã que vive na ilha de Guernesey, longe da filha, e não sabe nada sobre o mundo muçulmano. Os atentados quem matam seus filhos os levam a Londres, onde acabam por se aproximar apesar de serem pessoas de mundos tão diferentes.

"É a variedade das árvores que faz a beleza da floresta, a variedade das cores que faz um belo buquê de flores, um belo tapete", afirmou o premiado, homenageando a diversidade artística do festival.

O filme grande vencedor é baseado no mito andino de que as mulheres estupradas durante a violência política no Peru traumatizavam seus filhos ao dar-lhes o seio para mamar.

Magaly Soler interpreta Fausta, que nasceu "com o susto" causado pelo estupro de sua mãe. Ao morrer, esta expressou seu desejo de ser enterrada em seu povoado natal.

O filme não conta apenas a luta de Fausta para conseguir dinheiro para a viagem, como também o lento processo para se curar da doença causada pelo fato de ter enfiado uma batata na vagina por medo de também ser estuprada.

"Fiquei sabendo desse mito da 'teta assustada' graças a um livro de relatos publicado por uma universidade nos Estados Unidos sobre as mujeres violadas durante a barbárie do terrorismo peruano. Essa crença se transmitia de geração para geração e a cura se dava mediante rituais xamanistas", explicou a diretora na coletiva de imprensa posterior à apresentação de seu filme, que comoveu o público do festival.

Claudia Llosa esclareceu ainda que a introdução de uma batata na vagina da personagem é um elemento fictício. "A batata é um tampão, ejetor de qualquer objeto externo. No Peru, a batata tem muitas conotações: é a raiz, a fertilidade, a tradição, o que somos, essa carga do passado, essa ferida, o trauma que queremos esconder", explicou.

"Minha pretensão era nos expor sem tabus, falar de tradições que não querem aparecer ante a modernidade. Perdemos nossa memória coletiva, mas nossa ferida ainda existe, e quer sair à luz", concluiu.

O iraniano Asghar Farhadi, 36 anos, por sua vez, mostrou em "About Elly" como a jovem burguesia de Teerã convive dentro de uma sociedade codificada pelos valores do Islã.

Outro vencedor da noite, o jovem realizador argentino Adrian Biniez, 34 anos, que dividiu o Urso de Prata com "Alle anderen" com o filme com "Gigante", o retrato insólito de um guarda de segurança noturno de um supermecado que, sob um físico ameaçador, possui uma alma sensível.

O israelense Oven Moverman foi premiado pelo seu primeiro roteiro, "The Messenger", sobre a dor das famílias dos soldados americanos mortos no Iraque.

"Katalyn Varga", um sombrio drama rodado nas florestas da região romena da Transilvânia pelo britânico Peter Strickland, levou o prêmio de melhor contribuição artística com a trilha sonora.

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