Presidente do júri que deu o Urso de Ouro para "Tropa de Elite" no ano passado, o diretor grego Constantin Costa-Gavras encerra hoje o 59º. Festival de Berlim com "Eden a l'Ouest". O filme acompanha a jornada homérica de um imigrante ilegal pela Europa em busca daquilo que acredita ser a resolução de todos os seus problemas.
O preconceito embutido na construção de alguns dos personagens com quem ele encontra na sua trajetória acaba por enfraquecer o filme. Na entrevista coletiva após a sessão para a imprensa, Costa-Gavras confirmou que sua realização mais recente será exibida no próximo CinePE, em abril, quando o cineasta também será homenageado com uma retrospectiva.
Cena de "Eden a l'Ouest", de Constantin Costa-Gavras, que encerrou neste sábado o Festival de Cinema de Berlim |
O ator italiano Riccardo Scaramucio faz o papel de Elias, imigrante ilegal que atravessa o mediterrâneo em um cargueiro clandestino, livra-se de sua identidade no meio do caminho e, quando chega à costa européia, inicia uma grande viagem até Paris marcada por todos os tipos de aventuras, humilhações e momentos grandiosos.
O diretor grego Constantin Costa-Gavras |
Gavras define o personagem como uma espécie de Cândido, personagem de Voltaire que simboliza a ingenuidade, o otimismo diante da desconfiança e maldade do mundo. O que diferencia Elias de Cândido, no entanto, está no fato de que o primeiro busca um ideal de vida e o segundo simplesmente encara a vida de uma forma otimista.
Ao chegar até a costa européia, Elias pula do cargueiro que o leva quando a guarda costeira se aproxima. Ele nada até a praia e se vê em um campo de nudismo, parte de um hotel luxuoso para hóspedes endinheirados - chamado sugestivamente de Éden. Por conta das circunstâncias, o imigrante ilegal se mistura entre os hóspedes, vive um breve romance com uma mulher e segue para Paris.
Gavras disse que por um momento ele e o roteirista, Jean-Claude Grumberg, pensaram em ambientar a aventura do personagem apenas dentro do hotel. "Realmente pensamos em transformar o clube em uma metáfora do ocidente", respondeu ele. "Depois, no entanto, percebemos que aquele lugar não é o paraíso, mas uma bolha onde as pessoas se refugiam por alguns dias."
Um dos pontos mais discutidos sobre "Eden a l'Ouest" foi a forma como Costa-Gavras compôs alguns dos personagens com quem Elias cruza no caminho para Paris. Há a mulher alemã deprimida com quem tem um caso, os caminhoneiros alemães gays, o casal de gregos endinheirados, a dama parisiense que lhe dá o paletó do marido falecido e vários outros.
O cineasta disse que o ponto em comum a todos esses coadjuvantes não é a crueldade, mas a indiferença. "As pessoas tiram fotos de cadáveres de imigrantes cujos corpos chegam até a praia por curiosidade mórbida", diz ele, referindo-se a uma cena do filme. "Eu sou mais parecido com a mulher que dá o casaco do marido falecido para que ele pareça mais apresentável e consiga um emprego. Não é um problema para esses indivíduos resolverem, mas para os governos."