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01/10/2010 - 16h04

Em "Rio Sex Comedy", Jonathan Nossiter satiriza olhar estrangeiro e destroi preconceitos sobre o Rio

CARLOS HELÍ DE ALMEIDA
Colaboração para o UOL, do Rio
  • Filme brinca com os clichês e os mal-entendidos criados e cometidos pelo estrangeiro, diz Jonathan Nossiter

    Filme "brinca com os clichês e os mal-entendidos criados e cometidos pelo estrangeiro", diz Jonathan Nossiter

O Cine Odeon abre suas cortinas hoje, às 19h, para a primeira projeção no Brasil de “Rio Sex Comedy”, dirigido pelo americano (naturalizado brasileiro) Jonathan Nossiter, dentro da programação do Festival do Rio. Aqui, o autor do premiado (e polêmico) documentário “Mondovino” (2004), sobre a indústria vinícula mundial, tenta fazer piada com as interpretações estrangeiras do paraíso tropical que eles conhecem como Rio de Janeiro – e por tabela, o Brasil.

Endossado por um elenco internacional, que inclui a inglesa Charlotte Rampling, a francesa Irène Jacob e os americanos Bill Pullman e Fisher Stevens, o filme acompanha as aventuras de uma cirurgiã plástica inglesa, uma antropóloga francesa, um embaixador e um trambiqueiro americano na tentativa de ajustar seus prazeres pessoais ao que entendem por justiça social.

“É um filme que brinca com os clichês e os mal-entendidos criados e cometidos pelo estrangeiro e como esses o levam entender a realidade brasileira”, resumiu Nossiter na entrevista coletiva que se seguiu à projeção do longa-metragem para a imprensa. “Moro no Rio há seis anos, sou casado com uma brasileira, tenho consciência de que ainda sou um gringo no Brasil.

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“O que eu faço é tirar sarro desse olhar forasteiro e, no processo, desfazer algumas idéias preconcebidas sobre o Rio, como o maior deles, que tem a cidade como a capital da sexualidade, onde as pessoas passam o dia fazendo amor”, apontou o diretor. Nossiter diz que o brasileiro, por seu lado, também estimulam certos mitos sobre a vida sexual do país. “O próprio carioca gosta de vender essa imagem da intensidade sexual, quer tirar proveito disso. O filme brinca com essa imagem da sexualidade brasileira”.

Em “Rio Sex Comedy”, Charlotte Rampling interpreta uma famosa cirurgiã plástica que chega à cidade disposta a desencorajar as cariocas a passar por uma intervenção estética. Ex-musa de Krzysztof Kieslowski (“A Fraternidade é Vermelha”) entrevista empregadas domésticas e moradores de favelas cariocas para um documentário que está fazendo com o cunhado do marido. Consciente de sua incapacidade para a função, o embaixador vivido por Pullman foge de sua missão – e de seu gabinete – e vai se refugiar em uma favela. Lá ele é cooptado pelo personagem de Fisher Stevens, um guia turístico local.

A personagem de Charlotte mantém encontros com o cirurgião Ivo Pitanguy, com quem tem visões divergentes sobre a profissão. “Desenvolvi a minha personagem a partir de minhas próprias posições sobre a cirurgia plástica. É importante saber o que se quer para o próprio corpo, entender quais sãos os benefícios e quais são os prejuízos que esse tipo de intervenção pode trazer”, explicou a atriz de 64 anos, que já admitiu nunca ter passado por uma intervenção cosmética drástica.

Mary Sheyla, do grupo Nós no Morro, interpreta a empregada doméstica da antropóloga, e que é seduzida pelo cunhado do marido dela. A atriz, que já trabalhou com Fernando Meirelles em “Cidade de Deus” (2002) e com Eduardo Coutinho em “Jogo de Cena”, é um dos poucos nomes nacionais do elenco. Mas a língua parece que não foi um problema para a equipe, que esteve trabalhando junta por quatro meses e meio. “É verdade que não conseguíamos falar uma com a outra de maneira apropriada, mas, no final das contas, nos entendemos perfeitamente de outras formas”, observou Irène. “Às vezes, até mesmo os mal-entendidos entre nós, do elenco, podiam ser proveitosos, porque os incorporávamos ao filme, brincávamos com a situação”.

Mary acredita que “Rio Sex Comedy” possa ajudar a desfazer preconceitos sobre a realidade brasileira, que associa a violência à favela. “Quando o gringo chega aqui, tentando agradar e entender as comunidades carentes, pode encontrar seres humanos vivendo nelas. O filme tentar mostra esse olhar de uma maneira democrática e inteligente”, opinou a atriz.

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