"O Poderoso Chefão", clássico de Francis Ford Coppola premiado com três Oscar em 1972, teve sua única sessão no Festival do Rio com direito a sala cheia - embora não totalmente lotada - no Cine Palácio, na noite de sábado (27). No cinema, que tem capacidade para 800 lugares, havia cerca de 500 espectadores.
A diretora do festival, Hilda Santiago, apresentando a sessão, perguntou à platéia quantos nunca haviam assistido ao filme, que já existe em DVD, inclusive a partir da mesma versão restaurada exibida ontem. Menos de um terço dos presentes levantaram a mão. A maioria veio mesmo conferir como é que o drama baseado no livro de Mário Puzo ficava numa tela grande.
Esse foi o caso, por exemplo, do doutorando em Ciência Política Arnaldo Lanzara que, aos 31 anos, não tivera a oportunidade de ver o filme no cinema. Para ele, a experiência "foi uma surpresa". "Redescobri o filme", afirmou.
Lanzara não se incomodou nem com os diversos "blackouts", ou seja, momentos em que a tela ficou escura por alguns instantes entre um rolo e outro do filme. Por se tratar de cópia restaurada, seus rolos não podem ser colados nem emendados porque isto causaria a perda de alguns fotogramas.
Essas pequenas interrupções entre um rolo e outro poderiam ser evitadas se a sala tivesse dois projetores 35 mm, o que é raridade absoluta hoje nos cinemas brasileiros. Com um único projetor, a saída é esperar alguns momentos até que o novo rolo seja carregado.
Outro que veio conferir esta sessão foi o cineasta Walter Lima Jr. ("Os Desafinados"). "Só tinha visto o filme no cinema uma vez", contou.
A cópia de "O Poderoso Chefão" exibida ontem e que será projetada, também uma única vez na Mostra Internacional de São Paulo, que começa em 17 de outubro, pertence à coleção particular do próprio Coppola e está sob guarda da Paramount Pictures e tem circulação controlada e reduzida, para minimizar o risco de danos.
Cinema fechadoAcaba sendo profético o comentário também feito por Hilda Santiago de que "não muitos cinemas, nos próximos anos, poderão repetir este feito" - ou seja, exibir um filme em 35 mm, restaurado, numa tela grande.
Pelo menos no caso deste Cine Palácio, uma sessão como esta não deve se repetir. Inaugurado em 1962, o cinema foi vendido a um hotel em suas proximidades, na Cinelândia carioca, e deverá interromper suas atividades assim que terminar o festival. Mas, por ser tombado por dentro, seu interior deverá ser mantido. O cinema deverá ser utilizado para convenções.