Os bastidores e, especialmente, os atores do cinema pornográfico são o assunto do documentário alemão "O Dia-a-Dia do Pornô", de Jens Hoffmann. E, para quem espera ficar chocado, uma surpresa: essas pessoas que atuam e produzem os filmes são, muitas vezes, surpreendentemente comuns em sua vida cotidiana, encarando sua inusitada atividade apenas como um trabalho igual a qualquer outro.
Igual, mas nem tanto. Nenhum ator de outro gênero costuma ficar nu num set o tempo todo e entrar em contato com secreções corporais dos colegas ou manter com eles a intimidade sexual que se vê nas filmagens retratadas com bastante franqueza no filme - que poderá chocar algumas pessoas mais pudicas.
No Rio, para acompanhar as duas sessões de seu documentário no próximo sábado (4), o diretor contou que, para conseguir filmar nas condições de liberdade de que desfrutou foi preciso ganhar a confiança de seus personagens. "Era importante criar uma relação de amizade com aquelas pessoas. Precisava convencê-los de que eu não pretendia expô-las ou manipulá-las, apenas ouvi-las".
A estratégia deu certo e Hoffmann acabou economizando preciosos recursos na produção do filme hospedando-se com reduzidíssima equipe na casa de alguns dos atores entrevistados, como Otto Bauer e a star Belladonna, ambos norte-americanos.
Os EUA são, aliás, o país do mundo em que o cinema pornográfico é mais profissionalizado e exibe números surpreendentes. Estima-se que ali os lançamentos anuais do pornô cheguem a 30.000 títulos. Um DVD de sucesso pode alcançar até 10.000 unidades vendidas num único mês. O tamanho dessa indústria seria algo em torno de US$ 12,7 bilhões anuais, número que, segundo o filme, bateria o da indústria fonográfica.
Para Hoffmann, o documentário permitiu superar seus próprios preconceitos. "Ao ver essas pessoas de perto, foram caindo todos os clichês que eu tinha na cabeça. Eles encaram sua profissão como um trabalho qualquer, assim como padeiro. É apenas um emprego".
Nem por isso o documentário se esquiva das questões polêmicas, como o risco de doenças sexualmente transmissíveis - assunto em que milita Sharon Mitchell, uma das entrevistadas mais marcantes do filme, já que ela foi antes uma atriz pornográfica de sucesso que abandonou a carreira para tornar-se médica engajada na melhoria das condições sanitárias da indústria cinematográfica do sexo.
"O Dia-a-Dia do Pornô" também evita glamourizar o trabalho dos atores, mostrando histórias de algumas que fracassaram, como as irmãs Mia e Ava Rose. Entre as personalidades, a mais surpreendente é a jovem Sasha Grey. Aos 19 anos, Grey é uma das atrizes pornôs mais ativas, ousadas e bem-pagas dos EUA. Segundo Hoffmann, Grey tem perfil cultural bastante inusitado entre as colegas, conhecendo o cinema de Rainer Werner Fassbinder e Jean-Luc Godard. Ao mesmo tempo, não se furta de estrelar as produções que, mesmo nesse ramo, são consideradas "extremas", contendo algum tipo de violência.
Hoffmann está bastante curioso sobre qual será a reação do público carioca ao seu filme. Em festivais anteriores, como no de Montreal, ele revelou que ficou surpreso com a reação feminina. "Ao contrário do que eu esperava, elas compreenderam e aceitaram melhor do que os homens", pondera o diretor.
"O Dia-a-Dia do Pornô" tem sessões no sábado (4), às 16h e às 20h10, no Cine Palácio 2.