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02/10/2008 - 17h10

"Um Segredo" retrata Holocausto por ângulo intimista

Neusa Barbosa
Colaboração para o Uol, do Rio

No drama "Um Segredo", o diretor francês Claude Miller, 66 anos, aborda a má-consciência francesa em relação ao período da ocupação nazista, nos anos 40, através de uma história de amor polêmica numa família judia, entre os ex-cunhados Tânia (Cécile de France, de "Um Lugar na Platéia") e Maxime (Patrick Bruel). O filme começa a ser exibido no Festival do Rio a partir de amanhã (3).


No Brasil pela terceira vez - a primeira vez foi em 1992 -, Miller revela, em entrevista exclusiva, que sua intenção nesta história, que adaptou de romance autobiográfico do escritor Philippe Grimbert, foi "mostrar as vítimas do Holocausto não como uma massa anônima, como muitas vezes acontece, mas como pessoas reais, como nós".



Divulgação
Em "Um Segredo", drama do diretor francês Claude Miller, o Holocausto é retratado através de ângulo intimista

Ele também evitou pintar seus personagens como heróis. Aliás, esta foi uma das influências que ele admite guardar de François Truffaut, diretor de quem foi assistente em dez filmes, como "Domicílio Conjugal" (197) e "Noite Americana" (1973). "Como eu, ele não gostava de heróis no cinema e sim de pessoas normais, até fracas", explica.


Judeu, Miller conhece a fundo a época retratada no filme, os anos 1943-1944. "Nasci durante a guerra e me lembro nitidamente de, quando criança, ter sentido medo da deportação, que ameaçava os judeus. Meu primeiro poema de adolescência foi, aliás, não sobre amor, mas sobre esse medo", recorda.


Mesmo já tendo feito 17 filmes desde 1969, Miller não havia até agora abordado diretamente um tema que lhe é tão próximo e pessoal. " Para mim, encontrar esse livro de Grimbert foi como um reencontro com meu passado. Acho que me ocorreu algo parecido do que ocorreu com Roman Polanski que, apesar de quando criança ter vivido no gueto de Varsóvia, só foi tocar num assunto parecido em 'O Pianista' (2002).


O diretor observa, porém, que o que o atraiu para o romance foi mais a história de amor entre Tânia e Maxime que, na sua definição, "é politicamente incorreta". Isto porque os dois foram cunhados antes - Tânia era casada com o irmão de Hannah (Ludivine Sagnier, de "Uma Garota Dividida em Dois"), mulher de Maxime. Durante a perseguição aos judeus, Hannah e o marido de Tânia acabam morrendo. Tânia e Máxime resolveram então casar-se, o que gera mal-estar dentro da família.


Miller não teme a polêmica, bem ao contrário. "A arte divide", afirma. Por isso, ele reclama dos filmes hoje produzidos pela televisão na França que, na sua visão, "são mornos, não sacodem". Em sua opinião, quem vai ao cinema "procura algo mais forte, mais exigente". Por isso, o que ele gosta mesmo "é de desafios reais, não filmes para todo mundo se sentir bem. Isso eu não sei fazer".


Mas é nesse rumo que vai a indústria cinematográfica francesa, a seu ver. Por essa razão, ao ser indagado como está a situação do cinema francês hoje, ele tem outra frase bombástica: "A indústria vai bem, a sétima arte vai mal".


Isso não o desanima de continuar na profissão até porque ele teve bastante sucesso no lançamento de "Um Segredo" nos cinemas no ano passado que, segundo ele, foi "um sucesso". Para vir ao Rio, ele interrompeu temporariamente a montagem de seu novo filme, "Je Suis Heureux que ma Mére Soit Vivante", desta vez uma história contemporânea, sobre adoção e com elenco desconhecido.

"Um Segredo" será exibido nesta sexta (3), às 20h, no Odeon Petrobras. Repete no domingo (5), às 17h30 e 22h, no Estação Ipanema 2. E tem sua última sessão na segunda (6), às 16h, no Estação Barra Point 2.


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