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08/10/2008 - 11h57

Viggo Mortensen lança "Um Homem Bom" no Rio de Janeiro

NEUSA BARBOSA

Colaboração para o UOL, do Rio
"Um Homem Bom", primeira produção internacional dirigida pelo cineasta brasileiro Vicente Amorim ("O Caminho das Nuvens"), é a atração de encerramento do Festival do Rio, tendo sua primeira sessão hoje às 22h, no Odeon Petrobras. O filme terá, ainda, duas exibições amanhã, último dia da programação oficial, às 16h45 e 21h15, no Espaço de Cinema 2.

No Brasil pela segunda vez - a primeira foi em São Paulo, em 2003 -, o ator Viggo Mortensen (o Aragorn de "O Senhor dos Anéis"), compareceu às entrevistas que concedeu ontem usando uma camiseta do Flamengo, o time de Vicente Amorim. O diretor, por sua vez, correspondeu à gentileza usando a camisa do time do coração de Viggo, o San Lorenzo da Argentina.

Divulgação
O ator Viggo Mortensen veio ao Brasil especialmente para participar da première de "Um Homem Bom" no Festival do RJ
ASSISTA AO TRAILER
Norte-americano de Nova York, Mortensen fala um espanhol perfeito, resultado de ter vivido dos 2 aos 11 anos entre Argentina e Venezuela (ele completa 50 anos no próximo dia 20). O ator não poupa elogios ao diretor brasileiro, por ser "tão preocupado com os detalhes e com a ressonância que tem esta história, agora ou em qualquer época".

Co-produção entre Inglaterra e Alemanha com orçamento de US$ 15 milhões, "Um Homem Bom" adapta peça teatral do britânico C.P. Taylor, contando o processo de cooptação pelo nazismo de um professor de literatura, John Halder (Mortensen). Pai de família remediado, com mãe doente (Gemma Jones), Halder tem ascensão rápida dentro do Partido Nacional-Socialista por ter escrito um romance em que um personagem praticava a eutanásia.

Filho de dinamarquês, Mortensen admite que tinha preconceitos contra os alemães, resultado de histórias da Segunda Guerra contadas por seu pai e seus tios, que na Dinamarca viveram a invasão nazista. "Eu não gostava do som de sua língua, mesmo apreciando sua literatura e, em especial, sua música clássica", confessou. Para ele, "uma coisa linda de ter feito este filme foi ter acabado com muitos destes preconceitos".

O diretor Amorim explica que foi convidado ao projeto pela produtora Miriam Siegel, que havia visto "O Caminho das Nuvens" no Festival de Toronto, em 2003. "Ela queria um diretor não-europeu que, segundo ela, traria muita bagagem pessoal. Siegel procurava um olhar mais distanciado e pensou num latino-americano".

AgNews
Viggo Mortensen homenageia Vicente Amorim usando a camiseta do time do diretor, o Flamengo. Amorim, por sua vez, vestiu a camisa do time do ator, o San Lorenzo da Argentina
ASSISTA ENTREVISTA COM VICENTE AMORIM
A escolha de Budapeste como locação principal deveu-se ao fato de que Berlim, a primeira opção, hoje é uma cidade muito diferente dos anos 30, devido aos bombardeios sofridos na Segunda Guerra Mundial. "Budapeste hoje é mais parecida com aquela Berlim do que Berlim", descreve Amorim. Outra locação foi Tata, cidade a 70 km da capital húngara.

Quando Amorim entrou no projeto, já havia um roteiro em segundo tratamento, mas que foi sendo modificado pelo diretor. Além disso, foram incorporadas várias sugestões do ator e produtor executivo Jason Isaacs (que interpreta Maurice, psicanalista judeu amigo de John Halder) e também do protagonista Viggo Mortensen - que assistiu a uma montagem da peça original, em 1982.

Uma das cenas que sofreu transformação radical a partir de observações de Mortensen foi uma em que ele dá aula de literatura. O ator decidiu falar em francês alguns trechos do escritor Marcel Proust, cujos livros inclusive ele trouxe para o set.

Outra cena reescrita mostra uma importante conversa entre Halder e seu amigo Maurice à beira de um lago. "Reescrevemos a cena a seis mãos, uma semana antes de filmar, eu, Viggo e Jason. Ficou mais intensa, mas, curiosamente, também mais curta", disse Amorim.

O diretor sustenta que vê "Um Homem Bom" como uma "história doméstica". E completa: "As decisões das pessoas comuns fazem história e podem ter conseqüências terríveis. Os nazistas não vieram do espaço sideral. Por isso, a pesquisa da trivialidade era tão importante".

Amorim encontra, inclusive, pontos de contato com a história recente do Brasil: "Quantas pessoas comuns, como John Halder, não escreveram um artigo, procuraram uma promoção no trabalho, tiveram enfim pequenas atitudes que contribuíram com a ditadura militar? O terror só acontece porque atuam para isso também os 'homens bons'".

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