Autor de curtas premiados, inclusive internacionalmente, como "Alguma Coisa Assim" (2006) e "Saliva" (2007), além de um hit no YouTube, "Tapa na Pantera"(2006), o cineasta paulistano Esmir Filho estreia um longa sobre o universo adolescente, com pitadas de internet e Bob Dylan, em "Os Famosos e os Duendes da Morte". Depois de ter sua première mundial na competição do Festival de Locarno, em agosto, o filme é exibido pela primeira vez no Brasil no Festival do Rio e tem sua última sessão hoje à noite, no Estação Vivo Gávea.
Em entrevista ao UOL Cinema, Esmir confirma seu interesse pelos adolescentes. "Acho que faltava vê-los mais na tela, como fiz nos meus curtas. Ao mesmo tempo, gosto muito dessa fase, de rito de passagem, dessa coisa do aprendizado, do dolorido que não é ruim, que é gostoso, porque você finalmente aprende".
O interesse foi compartilhado por Ismael Cannepele, autor do livro homônimo de que foi extraído o roteiro, afinal escrito por ele e Esmir. "Ele tinha uma proposta de conversar com adolescentes em termos de livro, eu, de cinema. Aquilo veio muito de encontro ao que eu sentia, que o adolescente parece que está num mundo a que não pertence".
O livro, que ainda não havia sido publicado - foi lançado agora, no Festival do Rio - também foi sendo modificado à medida em que ia nascendo o roteiro. As filmagens foram no interior do Rio Grande do Sul, no vale do Taquari, onde o escritor nasceu e se ambienta a história. O protagonista é o Menino sem Nome (Henrique Larré), órfão de pai, fascinado por Bob Dylan e que usa o pseudônimo de Mr. Tambourine em seus relacionamentos pela internet.
Fazendo parte da história, a canção de Dylan, "Mr. Tambourine Man", acabou sendo uma das primeiras exigências do diretor. "Disse ã Sara Silveira (produtora) que se não tivesse essa música teria que repensar o roteiro em alguns aspectos, porque ele é muito calcado no sentimento dela. Felizmente, conseguimos na fase de roteiro, com uma verba separada".
Além da música, que no filme é de autoria também de um jovem músico gaúcho, Nelo Johann, a internet é outro pilar da história. O próprio músico, tanto quanto os jovens atores do filme, sem experiência anterior, foram escolhidos via internet.
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Esmir Filho posa para foto após o sucesso de ''Tapa na Pantera'' (à direita), em imagem de 2007
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Cena do curta-metragem "Alguma Coisa Assim", de Esmir Filho
Esmir conta que conheceu primeiro os perfis dos futuros atores na rede. E explica a razão: "Queria antes saber como os jovens queriam ser vistos, não como eles eram, porque é disso que fala o filme. O menino se expõe na internet, se joga para o mundo ali mas não diz o seu nome. O adolescente sempre teve essa máscara mas a internet veio concretizá-la. Tanto que ele é o Menino sem Nome. Para ele, a vida virtual é quase uma realidade".
A garota (Tuane Eggers), por sua vez, tinha fotos e vídeos na internet - muitos dele, inclusive, aparecem no próprio filme e no seu site. Outros vídeos foram produzidos por ela e por Cannepele durante as filmagens, segundo o diretor.
Toda essa possibilidade atual de uma vida virtual independente da realidade é uma possibilidade que ao mesmo tempo fascina e assusta Esmir. "A internet não tem passado, presente, futuro, é só outro patamar, outro lugar. Eu encontro a projeção de outra pessoa na internet, como o garoto faz com o amigo. Mas eles não conversam realmente. Acho isso encantador e amedrontador ao mesmo tempo. Porque ao mesmo tempo a internet imortaliza. A pessoa deixa as imagens de como ela quer ser lembrada. Se ela morre, seus vídeos continuam lá. A senha ninguém sabe, vai ficar lá, vira uma coisa póstuma".
O diretor explica porque manteve seu set fechado durante as filmagens. "Não tive intenção de me afastar mas eu sou muito protetor. Estava protegendo os meus meninos. Tinha muito medo de que alguma coisa pudesse abalar sua integridade. Porque eles são meninos de uma cidade pequena, não queria nenhum deslumbre". Ao mesmo tempo, ele vê uma vantagem adicional nesta reserva: "A gente trabalhava muito silencioso no set para eles ficarem à vontade. Ficou mais intimista, o que serviu porque a história é muito introspectiva".
Outra coisa que assustou um pouco o diretor foi a passagem do curta para o longa. "Para mim foi algo novo e assombroso". Ele adianta que, apesar disso, já está pensando num novo projeto. "Não sei se será sobre adolescentes de novo, mas com certeza, será sobre relacionamentos humanos. É a coisa de que mais gosto". E quer repetir a parceria com Ismael Cannepele.
OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE, de Esmir Filho. Brasil/França, 2009. 101 min.
Terça (29/9), 22:20, Estação Vivo Gávea 3*Neusa Barbosa escreve para o site Cineweb