Alta, magra, loura, olhos azuis, a dinamarquesa Rie Rasmussen, 32 anos, teria tudo para transformar-se numa top model. Ao invés disso, aos 15 anos, deixou a fria e cinzenta Copenhagen natal para viajar pelo mundo. Acabou na Califórnia, nos EUA, aos 17 anos, dividindo um apartamento com ninguém menos do que o cineasta Wes Anderson ("Os Excêntricos Tanenbaums").
A convivência de alguma forma acabou inspirando Rie, que se tornou fotógrafa e artista plástica antes de tornar-se atriz (em "Femme Fatale", de Brian de Palma) e cineasta. E com um começo promissor. Seu primeiro curta, "Thinning the Herd" (2004), foi selecionado para a competição do formato no Festival de Cannes. Cinco anos depois, ela estreia em longas com "Human Zoo", que debutou na mostra Panorama, do Festival de Berlim 2009.
Apesar da passagem por Berlim, um dos principais festivais de cinema do mundo, a seleção de seu filme no Festival do Rio teve um sabor especial. "Ser aceita no Rio foi uma das maiores alegrias de minha vida", assegura em entrevista ao
UOL. O que ela mesma descreve como um "caso de amor com o Brasil" começou há dois anos e meio quando, numa viagem por "países difíceis do mundo", que incluiu a Sérvia, a Macedônia, o Afeganistão e Kosovo, ela passou dois meses em Florianópolis.
O caso de amor promete continuar, já que Rie vai mudar-se por um mês para São Paulo, em janeiro de 2010, para fazer no País uma série de pinturas. A ideia foi dela, que teve total apoio de galerias de Londres e Nova York para as quais sugeriu o projeto. Quanto ao Rio, ela garante: "Se eu fosse do Comitê Olímpico, escolheria o Brasil", diz, referindo-se à atual disputa entre o Rio e Chicago para sediar os próximos Jogos Olímpicos.
Assunto sério, filtro pop - A viagem pelos "países difíceis", em todo caso, fez parte da pesquisa de Rie para o roteiro de "Human Zoo", que conta a história de Adria (interpretada por ela mesma), uma imigrante de Kosovo, refugiada na França, mas que esconde um passado dúbio, envolvendo um ex-soldado e traficante de armas sérvio, Drjan ( Nicola Djuricko). Faz parte do elenco Hiam Abbas, atriz habitual dos filmes de Amos Gitai, como "Free Zone".
Se o pano de fundo da história é sério, referindo-se aos estupros e massacres ocorridos durante a guerra dos Bálcãs dos anos 90, nem por isso a diretora estreante deixa de temperar o clima com um sabor pop. Há cenas que são puro Quentin Tarantino, envolvendo facas e dedos.
Rie comenta que "muitas pessoas não entendem isto, acham que é um assunto muito sério e assim deixam de enxergar essa camada de cultura leve, pop, que eu coloco. É o tipo de espectador que quer que lhe digam o que pensar e quem são os bons e os maus".
Justamente o oposto da atitude que Rie espera do público que, a partir deste domingo (4), for assistir ao seu filme no Festival do Rio. "Meu alvo é um público cinéfilo, com referências e que fique o tempo todo se perguntando: 'Mas que história é essa?'".
Nas filmagens, que ocorreram em Belgrado, a diretora e sua equipe chegaram a correr riscos. "Os pró-sérvios nos ameaçaram de morte. Achavam que nosso filme era pró-Kosovo, que conseguiu sua autonomia no último dia da filmagem. Na verdade, meu filme é pró-humanista". Ela também não quer criticar apenas os sérvios: "Todo país tem seus nacionalistas e seus idiotas".
"HUMAN ZOO" - de Rie Rasmussen. França, 2008, 110 min.
Domingo (4/10), 16:00, Estação Vivo Gávea 1
Domingo (4/10), 20:20, Estação Vivo Gávea 1
Terça (6/10), Estação Barra Point 1
Quinta (8/10), 14:30, Espaço de Cinema 3
Quinta (8/10), 21:45, Espaço de Cinema 3*
(Neusa Barbosa escreve para o site Cineweb)