Entre a anarquia completa e a moral e os bons costumes há uma infinidade de possibilidades. Mas vivemos em um período de extremos e a polarização parece ser o caminho natural para resolver questões fundamentais da vida em sociedade. Por mais que os fãs de histórias em quadrinhos e afins se esgoelem para destacar as qualidades "viscerais" de "Batman - O Cavaleiro das Trevas", essa parece ser a tônica do segundo filme de Christopher Nolan nessa franquia. A estréia está marcada para sexta, 18 de julho.
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As qualidades do filme vão muito além de elogios rasgados e vazios às interpretações de Heath Ledger (morto em janeiro) no papel de um perturbado Coringa ou de Aaron Eckhart como o atormentado Harvey Dent - sem contar Christian Bale como o Homem-Morcego. Ele fala de como nos alimentamos de uma correção política inexistente, de falsos heróis e, especialmente, de heroísmos desnecessários.
Divulgação Chris Bale é Bruce Wayne, o alter ego de Batman em "O Cavaleiro das Trevas" |
Christopher Nolan está entre os cineastas de Hollywood que se esforçam para dar um sentido ao "cinemão mainstream". Já demonstrava sinais disso em "Batman Begins", o primeiro filme da nova fase da franquia do personagem de Bob Kane. Agora, confirmou o que se suspeitava: realmente há vida inteligente por trás de adaptações de super-heróis de histórias em quadrinhos para o cinema. E Nolan certamente é uma dessas cabeças privilegiadas.
Divulgação Heath Legder como Coringa entrega uma interpretação impressionante |
Ao transportar para a tela histórias seminais da "cronologia" de Batman, o cineasta se despiu de todas as obrigações e inseriu o Homem-Morcego num contexto contemporâneo. A demolição da mansão Wayne em "Batman Begins" deu sentido à "criação" do Homem-Morcego e fez referência à queda das Torres Gêmeas. Aqui, o mal primitivo representado pela figura abjeta do Coringa e a ambigüidade do (literalmente) dividido Harvey Duas-Caras levam Batman e o comissário Gordon a uma montanha-russa de emoções que contrastam com seus princípios.
Divulgação Maggie Gyllenhall e Aaron Eckhart são Rachel e Harvey Dent |
Com a ajuda do elenco afiado e de primeira, Nolan transforma essa pantomima e as falas de efeito - sempre presentes nos filmes de super-heróis - em um espetáculo visual. Não apenas pela ambientação, a caracterização ou os efeitos especiais, mas por saber manejar a câmera de forma a dar sentido a cada um dos personagens e seu peso na história. Preste atenção na seqüência em que Batman segura o Coringa de cabeça para baixo em uma espécie de andaime e ambos discutem. Há muita sofisticação no modo como ela foi filmada e montada.
Se não tem sentido festejar as qualidades de um filme porque seu personagem é herói popular dos quadrinhos, também não tem sentido descartá-lo por gozar dessa popularidade toda. Julgar sem ver ou ao menos tentar entender o que significam filmes como "Batman Begins" e "Batman - O Cavaleiro das Trevas" no contexto de hoje está longe de ser inteligente.