SÃO PAULO (Reuters) - Sofrimento e infelicidade matrimonial parecem embutidos no DNA da realeza britânica e estão presentes no drama de época "A Duquesa", que estréia no Rio e São Paulo nessa sexta-feira e retrata a vida de Georgiana Spencer, uma das ancestrais de Diana Spencer, Lady Di, a Princesa do Povo.
A história dessas duas mulheres tem muito em comum: ambas pensaram se casar por amor, mas viveram um casamento infeliz de conveniências presas a formalismos da sociedade. Foram mulheres à frente de seu tempo, feministas e conhecidas por seu apego ao povo - mais do que aos maridos infiéis.
Georgiana, vivida por Keira Knightley ("Desejo e Reparação") casou-se com o duque de Devonshire (Ralph Fiennes, de "O Jardineiro Fiel"), com o único objetivo de lhe dar um herdeiro. Depois de vários abortos e duas tentativas frustradas (teve duas meninas), ela percebe que seu casamento não é um conto de fadas - especialmente quando ele começa a passar as noites no quarto de sua melhor amiga, Bess Foster (Hayley Atwell), a quem ela dá abrigo por ter sido abusada pelo marido.
É uma crônica de infelicidade conjugal que facilmente traça paralelos com a vida infeliz de Lady Di. A diferença é que a amante do duque de Devonshire ganha de Camilla Parker Bowles no quesito beleza.
Georgina se envolve com política - talvez para provocar o marido ou compensar sua solidão - e faz campanha para o partido Whig, ajudando a eleger um primeiro-ministro e apóia as revoluções americana e francesa.
Tudo isso está no filme, mas nunca há algo de mais profundo da personagem. O letreiro inicial (que vem antes mesmo dos créditos) explica que o filme é 'baseado numa história real', tentando, antes de mais nada, obter a cumplicidade do público pela heroína sofredora. E como ela sofre.
Dirigido por Saul Dibb, a partir de um roteiro de Jeffrey Hatcher e Anders Thomas Jensen, "A Duquesa" faz questão de frisar com insistência o quanto Georgina foi importante para as mulheres de seu tempo, mas quando se aventura pela vida amorosa da personagem restam apenas lágrimas eternas e risos fugazes, sem muita profundidade emocional ou psicológica.
O duque quer apenas um filho - ele gosta mais de seus cães do que das filhas e da mulher - e a duquesa quer apenas ser feliz, nem que seja nos braços de Charles Grey (Dominic Cooper), um jovem político que se torna seu amante.
E a infelicidade de Georgina é acentuada para que fique bem claro o quanto essa pobre mulher sofreu nas mãos do marido, que a violentou ao menos uma vez. Num café da manhã, ela pede ao marido que lhe permita ter um amante. Ele nega, é óbvio. Mas a amante dele, que também está à mesa, tenta argumentar que a duquesa quer o mesmo que eles dois têm: em vão. Mais uma vez, Georgina precisa falar por si mesma - e novamente o filme insiste em mostrar o quanto ela foi importante para as mulheres da sua época, mesmo ao custo de muito sofrimento.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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