Por Michelle Nichols
NOVA YORK (Reuters) - Quando Ron Howard assistiu a uma peça em Londres sobre a histórica entrevista de 1977 feita pelo apresentador de TV britânico David Frost com o ex-presidente norte-americano Richard Nixon, decidiu que queria dirigir um filme sobre a entrevista.
Feita três anos depois de Nixon ter sido forçado a renunciar em função do escândalo de Watergate, a entrevista fascinou espectadores em todo o mundo. O ex-presidente admitiu pela primeira vez que cometera erros e traíra a confiança do povo americano.
"Frost/Nixon", de Ron Howard, que estréia nas grandes cidades dos EUA na sexta-feira, é baseado na peça homônima premiada com o Tony e é estrelada pelos mesmos atores que representaram os personagens no teatro em Londres e Nova York em 2006 e 2007: Michael Sheen como David Frost e Frank Langella no papel de Richard Nixon.
Ron Howard, que recebeu o Oscar de melhor diretor por "Uma Mente Brilhante", de 2001, disse à Reuters em entrevista recente:
"O filme fala de política, dos erros políticos e dos abusos de poder em que Nixon se envolveu, mas não trata de política. Trata da verdade. Ele nos faz recordar que, numa democracia, precisamos realmente da imprensa para se esforçar para nos mostrar a verdade."
Frost pagou a Nixon cerca de 600 mil dólares pelos 12 dias de entrevistas, que renderam quase 29 horas de filme, e, na época, os críticos zombaram da idéia de que o apresentador de TV britânico conseguiria fazer frente a Nixon, ex-advogado.
As primeiras críticas do filme da Universal vêm sendo elogiosas, e "Frost/Nixon" vem sendo aventado como possível candidato ao Oscar em várias categorias.
Howard disse que ficou feliz pelo fato de o estúdio ter esperado até depois da eleição de 4 de novembro para lançar o filme, porque teria sido um erro tentar promovê-lo como filme político.
Parte do público provavelmente tentará traçar paralelos com o presidente George W. Bush, criticado por ampliar em muito o poder do Executivo, mas Howard disse que duvida que Bush conceda uma entrevista aprofundada depois de deixar a Presidência.
"Duvido que Bush precise do dinheiro. Acho que ele provavelmente irá a seu rancho e viverá numa bolha. Mas talvez sinta a necessidade de ser compreendido", disse o diretor. "Acho que Nixon precisava do dinheiro. E imagino que também houvesse um desejo real dele de se redimir e reconstruir."
O escândalo de Watergate começou com uma invasão mal-realizada da sede do Comitê Nacional do Partido Democrata, no hotel Watergate, em Washington, em 17 de junho de 1972, um ano eleitoral. O objetivo era grampear os telefones do comitê.
Inicialmente minimizado pela Casa Branca como nada mais do que "um furto de terceira categoria", o escândalo demorou a tomar forma, e Nixon conquistou um segundo mandato em 1972 antes de investigadores determinarem que o incidente tivera origem na Casa Branca, obrigando Nixon a renunciar em 9 de agosto de 1974.