Em "Educação"* - filme badalado da diretora dinamarquesa Lone Scherfig -, Carey Mulligan, com rosto aberto e grandes olhos castanhos que exprimem curiosidade e inocência, é uma estudante de 16 anos com sonhos de levar uma vida longe do tédio brutal do Reino Unido do pós-guerra.

Um dos muitos prazeres do filme de Scherfig é ver como, ao longo do processo de sedução (por um playboy de impecável talento para a tarefa, maravilhosamente vivido por Peter Saasgard) esse rosto se transforma primeiro numa mocinha deslumbrada, depois no projeto de uma diva da nascente Swingin' London e , finalmente, na jovem mulher independente que ela sempre desejava ser. "No início do filme, Jenny, a minha personagem, considera as opções que ela teria, na época: ser como a diretora da escola, ser como sua professiora favorita, ser como sua mãe ou ser como Helen, a amiga do seu sedutor. Considera todas essas opções seriamente, mas rapidamente percebe que cada uma delas representa algo que não quer ser. Na verdade, ela era o protótipo da mulher independente com sensibilidades modernas", diz a Mulligan, que fez o papel com 22 anos.

"Sempre representei papéis de gente mais moça. Não é difícil para mim lembrar como eu era aos 16 anos. E o uniforme ajudou". Filha de dois funcionários da rede Intercontinental de hotéis, Mulligan cresceu entre suites nos estabeleciimentos onde seus pais trabalhavam e o colégio interno Woldingham School, próximo a Londres. Foi ali que ela pegou o que chama de "o vírus do ator", depois de uma palestra do ator e roteirista Julian Fellowes. "Eu e mais três amigas muito próximas sabíamos que não queríamos ir para a universidade", diz Carey. "Ia ser uma perda de tempo. Eu sempre tinha sido fascinada por musicais, tinha uma camiseta de Cats que já estava toda esfarrapada. Mas a palestra e a oficina dele me mostraram que eu podia fazer aquilo."

Animada pela palestra, Mulligan juntou-se ao elenco da escola para uma produção de fim de ano do musical Sweet Charity. A sorte estava lançada: animada com o resuiltado, Carey procurou Fellowes pedindo conselhos. Por sorte, ele estava ajudando os realizadores do filme Orgulho e Preconceito a encontrar uma jovem atriz desconhecida para ser "Kitty", uma das cinco irmãs no centro da trama. Em pouco tempo Carey,aos 19 anos recem concluidos, fazia sua estréia profissional. "Foi divertido demais. Depois disso, eu sabia que nunca mais ia parar."

De fato, este ano Carey está na lista de prováveis indicações para o Oscar, e, além de "Educação", tem presença pequena mas notável em dois outros filmes, "Public Enemies", de Michael Mann, e "Brothers", de Jim Sheridan. Ano que vem veremos Carey em "Wall Street 2", que Oliver Stone está filmando - ela será a filha do indestrutível Gordon Gekko de Michael Douglas. E, é claro, está namorando Shia LaBeouf. "A coisa toda do sucesso, de ser a "it girl" e tudo mais é muito estranho para mim, ainda. Não consigo processar toda a informação. Acho que o lado bom é o acesso que tenho tido desde que o filme fez sucesso em Sundance, este ano. Acesso a pessoas que admiro, roteiros melhores, mais capacidade para conduzir minha carreira do jeito como quero."

* O título em português, apresentado anteriormente como "Sedução", sofreu mudanças e passa a se chamar "Educação"

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