É uma história tão antiga quanto Caim e Abel - o "bom" irmão, orgulho e alegria do pai, e o "mau" irmão, rebelde, boa vida, descuidado. Adicione um fator dramático - aqui, no caso, a guerra no Afeganistão - e o arquétipo milenar se torna subitamente atual e urgente. "A guerra muda tudo", diz o diretor
Jim Sheridan. "Não é possível ficar moralmente indiferente numa guerra." Irlandês de nascimento, Sheridan adaptou para um cenário tipicamente americano uma versão dessa história imaginada pela primeira vez na Dinamarca.
Lançado originalmente em 2004, "Brothers", escrito e dirigido por Suzanne Bier (que depois dirigiria "Coisas que Perdemos no Caminho") , acompanha dois irmãos exatamente assim: o primogênito casado, pai de duas meninas adoráveis, carreira militar brilhante; o caçula, um eterno adolescente frequentemente do lado errado da lei. O mais velho junta-se às forças de paz da ONU no Afeganistão, cai prisioneiro, é dado como morto. Cabe ao mais moço levar a vida adiante, tentar substituir o irmão na desfalcada dinâmica familiar.
Trabalhando basicamente com o mesmo roteiro - de Bier e Andres Thomas Hensen -, Sheridan deixa as coisas como estavam em "Entre Irmãos", colocando Tobey Maguire como Sam, o mais velho, Natalie Portman como Grace, a mulher dele, e Jake Gyllenhaal como Tommy, o caçula. Pelo, fato de se tratar de uma família americana, o envolvimento no Afeganistão é mais importante, mais decisivo e dramático. Sheridan detém-se por um bom tempo na vida de Sam nos marines, seu amor pelo que faz e a brutal descida aos infernos que sua captura representa. O drama de consciência que ele precisa enfrentar quando, quase literalmente, ressuscita, é o catalisador do drama que, no fim, mudará de vez a ordem familiar. "É uma história familiar e também um drama de guerra", diz Sheridan. "Uma coisa está ligada a outra, e a intensidade que a guerra traz a todas as relações não podia ser disfarçada ou atenuada."
Os três adultos principais - mais Sam Shepard, excelente como o pai dos dois irmãos, ele mesmo um veterano de guerra com seus esqueletos no armário - estão excelentes, mas uma estrela mirim de 9 anos rouba todas as cenas. Como a sensível e atenta filha mais velha, Isabelle, Bailee Madison é um assombro, revelando sem palavras tudo o que percebe e sofre com a tensão na família. Um prodígio.