Na indústria diz-se que os Globos de Ouro "influenciam" os Oscars, mas pode não ser bem isso. É mais provável que há seis décadas os Globos de Ouro venham fazendo uma espécie de dever de casa para a Academia, pré-selecionando os títulos dignos de consideração em cada safra.
Como jornalista cobrindo cinema em Los Angeles, os 95 integrantes do grupo por trás do Globo de Ouro tem o dever profissional de ver o máximo possível de títulos todo ano, enquanto a Academia tem como prioridade fazer filmes, não vê-los. O mesmo, aliás, aplica-se à TV e aos Emmys - "The Office" (o original), "Família Soprano" e "Mad Men" foram algumas das "descobertas" dos Globos depois endossadas pela Academia de TV.
Este ano, com dez títulos concorrendo ao Oscar de melhor filme, os paralelos com os Globos podem ser ainda maiores. Tradicionalmente, os cinco melhores dramas dos Globos caíam como uma luva nas principais categorias do Oscar, inclusive melhor filme, mas as cinco melhores comédias/musicais tinham mais dificuldade para repetir o feito (com exeções, é claro: "Uma Linda Mulher", "Juno", "Moulin Rouge", "Chicago", "Chegadas e Partidas", "Ray", "Entre Umas e Outras", entre outros). Este ano é diferente, há lugar para todo mundo.
Mais uma razão para os Globos estarem atraindo redobrada atenção, ainda mais sendo a primeira edição da festa depois do desacontecimento de 2008, quando a greve dos roteiristas matou a festa.
O que esperar da noite de domingo, além de muitas piadas do habitual desfile de moda e muitas piadinhas de Ricky Gervais dirigidas, como ele mesmo disse, "a todo mundo que é mais magro, famoso e rico que eu"?
Algumas possibilidades:
Filme/drama: Até "Avatar" ser exibido para a HFPA, "Amor Sem Escalas" e "Guerra ao Terror" eram os francos favoritos. Agora, tudo é possível entre estes três fortes competidores.
Filme/comédia ou musical: Ninguém gostou de "Nine", menos a HFPA. Não descartem o filme de Rob Marshall. O fator Meryl Streep pode emplacar qualquer um de seus dois filmes - ou cancelar os dois, dividindo os votos.
Diretor: Acho muito difícil que alguém tire este prêmio de James Cameron. Só, talvez, sua ex-mulher, Kathryn Bigelow.
Ator/drama: Todo mundo está apostando em George Clooney, mas que não se ignore Colin Firth, que apaixonou todos os votantes carregando "A Single Man".
Atriz/drama: O apelo da estreante Gabourey Sidibbe é quase irresistível como belo gesto para a HFPA. Mas Helen Mirren é uma eterna favorita e Carey Mulligan tem muitos fãs.
Ator/comédia: Michael Stuhlbarg é uma unanimidade até em gente que se sentiu incomodada com "A Serious Man". Mas Daniel Day Lewis cantando e fazendo acrobacias foi uma grata surpresa em "Nine".
Atriz/comédia: Meryl Streep. Mas por qual filme? "Julie & Julia" ou "Simplesmente Complicado"? O impasse pode ser vantajoso para Sandra Bullock ("A Proposta") que tem uma das campanhas mais fortes da temporada.
Coadjuvantes: A categoria mais fácil de emplacar no bolão - basta cravar Christoph Waltz ("Bastardos Inglórios") e Mo Nique ("Precious"). Dois monstros, personagens perfeitos para serem lembrados neste departamento.
Animação: Outra barbada - "Up - Altas Aventuras", na cabeça.