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31/10/2008 - 13h25

Retrospectivas, inéditos e Wim Wenders foram os pontos altos da 32ª Mostra

Neusa Barbosa
Colaboração para o UOL
Crédito
Pôster oficial da 32ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, encerrada oficialmente ontem
LEIA BALANÇO DO CINECLICK
Encerrada a maratona de mais de 400 filmes e 1200 sessões, a 32ª Mostra Internacional de Cinema encerrou ontem sua programação normal, embora prossiga, de hoje até quinta (6), em versão reduzida, na tradicional repescagem.

No balanço, o diretor alemão Wim Wenders e o ator portorriquenho Benicio del Toro foram as grandes estrelas desta edição, com o inglês Hugh Hudson e a iraniana Samira Makhmalbaf compondo um respeitável segundo time - menos pelos filmes do que pelo potencial de levantar polêmicas.

Hudson, que era jurado, e foi objeto de uma retrospectiva de quatro filmes - "Carruagens de Fogo" (81), "Greystoke - A Lenda de Tarzan" (83), "Fangio - Uma Vida a 300 km por Hora" (77) e a nova versão de "Revolução" (87)- provocou mal-estar pela acidez nas críticas ao suposto baixo nível das perguntas dos jornalistas na coletiva que anunciou os filmes vencedores da votação do público, no sábado (25).

Sem a mesma carga negativa, a articulada Samira, também jurada, teve problemas com a cópia de seu novo trabalho, "Cavalo de Duas Patas", que não pôde mostrar em São Paulo. Em compensação, atraiu atenção pelo relato do atentado que sofreu no set desta produção, no Afeganistão.

Contribuições de Wenders



O tranqüilo e bem-humorado Wenders acrescentou à programação de 2008 vários títulos não exibidos pelo Festival do Rio - que, vindo imediatamente antes no calendário - este ano, 25 de setembro a 9 de outubro - e de tamanho quase igual, é sempre um rival direto do festival paulistano na disputa pelas melhores atrações cinematográficas.

Além de apresentar seu mais novo filme, o discutido "Palermo Shooting", concorrente à Palma de Ouro no Festival de Cannes, o diretor alemão exibiu também seu making of e assinou, a convite, uma seleção de 15 títulos de sua preferência, a chamada Carta Branca. Nesta lista, contemplou trabalhos como "A Sereia do Mississippi", de François Truffaut, "O Pequeno Soldado", de Jean-Luc Godard, e dois de seu mestre japonês favorito, Yasujiro Ozu, "A Rotina Tem Seu Encanto" e "Fim de Verão".

Apesar da visita-relâmpago a São Paulo, que durou apenas três dias, Wenders conseguiu tempo para filmar sua participação num novo projeto de longa coletivo da Mostra, "Mundo Invisível", do qual faz parte o curta do português Manoel de Oliveira, "Do Visível ao Invisível", que abriu o Festival de Veneza este ano.

O segmento de Wenders que é documental, foi filmado com crianças com deficiência visual na Santa Casa de Misericórdia.


Imigração Japonesa



Na homenagem aos 100 anos da imigração japonesa, os dois clássicos de Ozu somaram-se à excelente retrospectiva de 14 filmes de Kihachi Okamoto (1924-2005), cujos trabalhos "Bala Humana" (68), O Imperador e um General" (67), "O Guerreiro Vermelho" (69), "A Era dos Matadores" (67) e "A Batalha de Okinawa" (71) traduziram a versatilidade de um diretor até agora pouco conhecido no Brasil.

Como é comum acontecer na Mostra, esta e outras retrospectivas foram pontos altos. Caso da de Ingmar Bergman (1918-2007), que reuniu 12 títulos inéditos ou pouco exibidos no Brasil, como seus trabalhos de começo de carreira, "Crise" (46) e "Prisão" (49), além dos fundamentais "Vergonha" (68) e "A Paixão de Ana" (69).

A Mostra marcou pontos em comparação com o Festival do Rio também na exibição em 35 mm da versão restaurada da série "Berlin Alexanderplatz" (1980), de Rainer Werner Fassbinder, e também das duas sessões de outra versão restaurada, "O Poderoso Chefão" (1972), de Francis Ford Coppola - que, no Rio, teve apenas uma sessão.

O jovem cineasta argentino Pablo Trapero, convidado dos dois festivais, aqui teve duas vantagens. A primeira, ter ministrado um workshop, a segunda, ter merecido uma retrospectiva de sua curta carreira, com a apresentação de "Mundo Grua" (99), "Do Outro Lado da Lei" (01), "Família Rodante" (04) e "Nascido e Criado" (06). Seu mais recente trabalho, o drama de prisão feminina "Leonera", foi exibido tanto em São Paulo quanto no Rio.

A maior frustração do ano foi, com certeza, a não exibição do aguardado "Garapa", novo documentário do premiado José Padilha (Urso de Ouro em Berlim por "Tropa de Elite"), que alegou problemas com a finalização da cópia.

Em compensação, a Mostra conseguiu reunir um número considerável de títulos inéditos ou que o Rio não viu ainda. Caso de "Che", de Steven Soderbergh, que contou com a presença de Benicio del Toro e Rodrigo Santoro; "Tulpan", de Sergey Dvortsevoy, vencedor da seção Un Certain Regard de Cannes; dois novos filmes de Wayne Wang, "A Princesa de Nebraska" e "Mil Anos de Orações"; o japonês "A Floresta dos Lamentos", de Naomi Kawase; "Duska", do holandês Jos Stelling; "Horas de Verão", do francês Olivier Assayas; a divertida série de curtas "Pornô Verde", de Isabella Rossellini e Jody Shapiro; "Hanami - Cerejeiras em Flor", de Doris Dörrie; dois ótimos filmes turcos, "Three Monkeys", de Nuri Bilge Ceylan, e "Leite", de Semih Kapanoglu; o faroeste "Appaloosa", de Ed Harris; o drama "Depois da Escola", de Antonio Campos (filho do jornalista Lucas Mendes), também do Un Certain Regard de Cannes; o colombiano premiado em Gramado "Perro Come Perro", de Carlos Moreno; e "Nucingen Haus", trabalho que marca a volta do veterano Raoul Ruiz ao Chile - mas que foi prejudicado em pelo menos duas sessões, uma delas cancelada, pela má qualidade da projeção digital.

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