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29/10/2009 - 12h56

Diretor de "Deixa Ela Entrar" filma com Nicole Kidman, mas não sonha com Hollywood

ALYSSON OLIVEIRA
Especial para o UOL, do Cineweb
Há exatamente um ano, em meados da 32ª Mostra Internacional de Cinema, numa conversa em qualquer rodinha de cinéfilos, mais cedo ou mais tarde, surgia a pergunta: "Você já viu o filme da vampirinha?". Um ano mais tarde, o tal 'filme da vampirinha', "Deixa Ela Entrar", tornou-se um cult, foi lançado no cinema (e continua em cartaz), e seu diretor, o sueco Tomas Alfredson, está na cidade, onde participa da 33ª Mostra, que inclui um ciclo de filmes da Suécia.
  • Cena do filme "Deixe Ela Entrar" (2007), de Tomas Alfredson

Alfredson, 44 anos, que chegou ao Brasil na noite de terça, ficou surpreso ao descobrir o status que seu filme alcançou por aqui. "Eu não imaginava isso. É muito bom saber que meu filme se comunica bem com pessoas de todo o mundo e é capaz de emocionar em qualquer país onde é exibido", comentou numa entrevista ao UOL Cinema.

"Deixa Ela Entrar" chama a atenção por onde passa, ganhando fãs ardorosos. Uma das pessoas que certamente se encantou com o filme foi a atriz Nicole Kidman. Gostou tanto que fez questão de ser dirigida por Alfredson em um de seus próximos trabalhos, "The Danish Girl", que ela também assina como produtora. "Ela é uma atriz corajosa, parece não ter medo de nada. Eu a respeito muito porque escolhe projetos arriscados", elogia. Nesse novo longa, a atriz interpretará a primeira pessoa da história a fazer uma cirurgia para trocar de sexo, nascido Einar Wegener, que se transformou em Lili Elbe.

Alfredson pretende rodar o filme no segundo trimestre do próximo ano, mas confessa que os produtores ainda não conseguiram captar todo o orçamento do longa. "As pessoas parecem ter medo de investir em algo polêmico, arriscado. Será uma produção majoritariamente europeia. Não acredito que muitos americanos colocariam dinheiro num filme como esse".

Aliás, o diretor não poupa críticas aos Estados Unidos e ao cinema de Hollywood - começando pelo planejado remake de "Deixa Ela Entrar". "É muito triste que os americanos não vejam filmes estrangeiros. Talvez seja preguiça de ler legendas, mas existe essa necessidade de refazer as coisas. Acho que esse é o lado chauvinista da cultura norte-americana, apropriar-se da cultura dos outros para si". Alfredson acredita que a nova versão do seu filme terá mudanças drásticas em relação ao original. "Os americanos não conseguem lidar quando o assunto é sexualidade. Acho que toda a tensão sexual que existe no filme será removida. No final, ficará apenas uma história de vampiro, o que é uma pena, pois é muito mais do que isso".

ASSISTA AO TRAILER DE "DEIXE ELA ENTRAR"

Atualmente, vive-se um boom de filmes sobre vampiros, em alta seja com o sucesso adolescente da série "Crepúsculo" ou comédias, como "Matadores de Vampiras Lésbicas". Apesar disso, Alfredson confessa que não conhece muito sobre a cultura e as tradições vampirescas - os motivos que o levaram a fazer o filme foram outros. "Eu me identifiquei muito com o personagem central, o menino solitário, importunado por outras crianças na escola". Mas o diretor conta que as semelhanças acabam por aí, pois ele, infelizmente, nunca teve uma amiga vampira para ajudá-la.

De atores mirins à Guerra Fria

Não foi muito fácil para Alfredson e sua equipe encontrar os dois atores mirins, o menino Kåre Hedebrant e a garota Lina Leandersson, para os papeis centrais. "A Suécia é um país muito pequeno, não existem muitas crianças bons atores por lá. Ficamos procurando por um ano, fazendo testes e mais testes até encontrá-los. Que queria que fisicamente eles fossem bastante diferentes, pois eu os vejo como dois lados de uma mesma moeda. Ela é tudo aquilo que ele não pode ser".

Apesar do sucesso pelo mundo afora, "Deixa Ela Entrar" não foi tão bem recebido na Suécia, nem fez boa bilheteria por lá. "O maior inimigo do cinema no meu país é a pirataria. Lá todo mundo tem computador de última geração e internet banda larga, é muito fácil baixar filmes da internet". Como acontece no Brasil, lá não há também muito espaço nas salas de cinema para produções que não são norte-americanas. "Raramente chega um filme brasileiro na Suécia, por exemplo. Até os nossos filmes têm muita dificuldade para encontrar espaço nas salas de cinema. Se você quer ver alguma produção estrangeira, tem que importar um DVD da Inglaterra".

Por falar em Inglaterra, Alfredson já tem outro projeto encaminhado para depois de "The Danish Girl". Trata-se de uma adaptação de um romance de John Le Carré, "Tinker, Tailor, Soldier, Spy", que se passa durante a Guerra Fria. "Eu acho o assunto de extrema relevância. Os jovens não sabem o que foi a Guerra Fria. Tenho filhos adolescentes, e eles não fazem ideia do que isso representou para o mundo. Mas quero fazer um filme situado no passado que tenha ressonância com o presente", adianta.

O filme será rodado na Inglaterra e produzido pela Working Title, uma das maiores produtoras daquele país. Alfredson, que tem quase 20 anos de carreira em cinema e televisão, sabe que sem "Deixa Ela Entrar" não teria conseguidos tantas oportunidades interessantes de trabalho. No entanto, o cineasta não está nenhum pouco deslumbrado com isso e parece não ter muito interesse em imigrar para Hollywood. "Eu só irei quando for um projeto, muito, muito bom, que me interesse bastante e que eu me sinta confortável para fazer. Do contrário, pretendo ficar fazendo filmes na Europa mesmo".

"Deixa Ela Entrar" tem uma sessão hoje (29) na Mostra, às 19h, na FAAP. Depois do filme, Alfredson participará de um debate com o público.

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