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31/10/2009 - 07h00

Documentarista japonesa lança olhar estrangeiro em "Futebol Brasileiro"

ALYSSON OLIVEIRA
Especial para o UOL, do Cineweb
Depois de visitar o Brasil, quando a japonesa Miki Kuretani voltou para seu país foi surpreendida por verdadeiros interrogatórios feitos por seus amigos. "Todo mundo me perguntava sobre a violência. E eu explicava que a mídia exagera, que não é nada daquilo. Comigo não aconteceu nada de ruim, não fui assaltada, sequestrada, nem abordada. Minha estada no Brasil foi sensacional, inesquecível", disse ao UOL Cinema. Tão inesquecível, que ela resolveu fazer um filme sobre futebol.
  • Cena do filme "Futebol Brasileiro", da japonesa Miki Kuretani

"Futebol Brasileiro" tem sua última sessão na 33ª Mostra Internacional de Cinema neste sábado. Dirigido e produzido por Miki, o filme acompanha alguns personagens brasileiros e sua relação com o futebol. O filme, como ela mesma classifica, é "o olhar estrangeiro que, olhando do lado de fora, é capaz de perceber coisas que os brasileiros talvez não vejam mais".

Para produção das pesquisas no Brasil, antes de começar as filmagens, Miki contou com a ajuda de Hank Levine, da O2, um dos produtores de "Cidade de Deus" e um dos diretores do documentário "Ginga" (2004). Foi um processo longo de pesquisa e filmagens, que se iniciou em 2006. Para a fotografia do filme, a diretora só aceitava um profissional, o uruguaio radicado no Brasil César Charlone - que assina a fotografia de "Cidade de Deus" e "Ensaio sobre a Cegueira" e cuja estreia na direção "O Banheiro do Papa", codirigido por Enrique Fernández, foi o grande vencedor da Mostra há dois anos.

Charlone cobre com um verniz de cores e luzes as imagens de "Futebol Brasileiro", que segue, entre outros personagens, o jogador Rodrigo Tabata - ex-Santos e atualmente jogando num time na Turquia. "A história dele me comoveu muito. Como tantos outros garotos, ele conseguiu subir na vida com o futebol. Além disso, como ele conta no filme, as pessoas sempre o provocavam por causa de sua ascendência nipônica, mas ele viu nisso um estímulo para subir na carreira".

Tal como Tabata, Miki procurou pessoas reais, para acompanhar o cotidiano e o futebol na vida delas. Um dos personagens do documentário é um rapaz, torcedor do São Paulo e membro da torcida Independente. A documentarista ficou impressionada pela forma como o futebol afeta os brasileiros. "É uma verdadeira religião aqui. As pessoas podem trocar de namorado, casa, emprego, mas nunca, jamais, de time de futebol. Eu achei isso sensacional". Miki diz não acompanhar nenhum time brasileiro, mas admite simpatia pelo Santos, por causa de Pelé e Tabata.

Com a ajuda da codiretora Tatiana Vilela, Miki captou mais de 100 horas de material bruto, entre entrevistas com torcedores, jogadores como Sócrates e veteranos do Santos, o comentarista esportivo Armando Nogueira e o antropólogo Roberto DaMatta. O filme foi montado no Brasil, através de instruções da diretora via internet. "Era muito mais fácil editar aqui mesmo do que levar o material para o Japão. Um dos problemas seria a língua. Eu precisaria trabalhar com um montador que também entendesse o português, para que as entrevistas tivessem sentido e fosse mantido o ritmo das frases." A função ficou a cargo de Caio Cobra ("Benvindo a São Paulo").

Para se preparar para o filme, Miki, que atualmente mora em Tóquio, foi a algumas partidas de futebol no Brasil, entre elas, São Paulo e Boca Juniors. "Foi muito bom estar no estádio, cercada de pessoas vibrando. Mas também foi um pouco assustador ficar no meio da multidão. Tive de levar guarda-costas porque fiquei com medo", lembra, hoje rindo do episódio.

O documentário ainda não foi lançado no Japão, mas Miki ainda pretende levá-lo para as telas de seu país. "O futebol brasileiro ainda é bastante conhecido no Japão, mas já foi mais, especialmente no tempo do Zico. Agora os japoneses parecem preferir o campeonato europeu".

Além de planejar o lançamento de "Futebol Brasileiro" no Japão, Miki também prepara uma ficção que pretende rodar no Brasil no futuro. Aliás, a diretora confessa que gosta muito do Brasil. "Tenho um carinho especial pelo país, foi o segundo que eu visitei na minha vida e sempre fui muito bem recebida. Tenho parentes bem distantes aqui, com quem já perdi o contato, mas quem sabe o filme não acaba nos aproximando novamente".

Miki também conta que andar pela Liberdade (um bairro tipicamente oriental em São Paulo), a faz lembrar da Tóquio antiga. "Hoje no Japão é tudo mais moderno. Este pedacinho do Brasil me fez lembrar como era meu país antigamente".

"Futebol Brasileiro"
UNIBANCO ARTEPLEX 5 - 31/10/2009 - 16:10 - Sessão: 871 (Sábado)


Para mais informações, visite o Especial da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde se encontra a cobertura completa do evento com notícias, vídeos, fotos e serviços. Para a programação completa da Mostra, acesse o site oficial.

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