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02/11/2009 - 18h10

"Meu filme não é sobre matadores, é sobre seres humanos em crise", diz Marco Ricca

ALESSANDRO GIANNINI
Editor de UOL Cinema
Depois de passar sem muito brilho pelo Festival do Rio, "Cabeça à Prêmio" chega à 33ª Mostra de São Paulo para encontrar um público mais sintonizado com o tema e o formato do filme de estreia do ator Marco Ricca. Inspirado no romance homônimo de Marçal Aquino, conta três histórias que giram em torno de uma família de fazendeiros da região Centro-Oeste do país. Com elenco numeroso, reúne atores e atrizes experientes, como Fulvio Stefanini, Cassio Gabus Mendes, Alice Braga, o uruguaio Daniel Hendler e Eduardo Moscovis, em torno de uma trama que envolve amor, poder, cobiça e vingança.
  • Produção/ Elis Regina

    No set de "Cabeça à Prêmio", Marco Ricca (de boné vermelho) observa no monitor o enquadramento obtido pelo diretor de fotografia Zé Bob Eliezer (de boné legionário)

Após uma sessão para a equipe do filme, uma semana antes da estreia na Mostra, Ricca disse ao UOL que "Cabeça à Prêmio" ainda deve passar por algumas mudanças pequenas antes de chegar ao público. Egresso do teatro, ele disse que, diferentemente dos cineastas, tem sempre a vontade de "mexer". "Se eu pudesse ficaria mexendo eternamente", disse ele. Sem data de lançamento fixada, o ator e diretor estuda as ofertas de algumas distribuidoras.

ASSISTA A REPORTAGEM DO METRÓPOLIS COM O ATOR E DIRETOR MARCO RICCA

Ricca também disse que estuda alguns roteiros, mas que não pode adiantar o que pretende fazer. "É muito delicado isso porque, de repente, alguém vai lá e assume o papel", ponderou. "Mas estou feliz de poder aceitar convites e ler roteiros para atuar em cinema."

UOL Cinema - Como surgiu a ideia de se lançar na direção de cinema e por que você escolheu o livro do Marçal de Aquino para essa estreia?
Marco Ricca -
Foi meio natural. Eu já tinha dirigido bastante teatro e feito muitos filmes como ator. Foi um desejo que me veio naturalmente: tive vontade de contar uma história do ponto de vista dos personagens, com a possibilidade de fazer uma escolha estética. Depois de muitos anos em sets de filmagens, e também de gostar desse outro lado de enxergar a obra como um todo e ser um sintetizador de ideias, acho que isso veio naturalmente. Quando ocorreu a possibilidade, eu agarrei.

UOL Cinema - Você fez muitos filmes inspirados em livros do Marçal Aquino. Escolheu o "Cabeça à Prêmio" por isso? Chegou a pensar em outras possibilidades?
Marco Ricca -
Pensei em outras possibilidades, sim. Eu tenho verdadeira paixão pelo universo do Marçal. Além de ser um grande amigo, é um dos grandes escritores que temos, talvez o maior roteirista em atividade no país. O livro dele eu conheço há muito tempo, mas, na verdade, os direitos estavam com outra pessoa [o editor Rodrigo Teixeira]. Eu cheguei a pensar em fazer o "Cabeça à Prêmio" como ator. Achava aquele livro uma obra bem acabada cinematograficamente. Talvez até outra pessoa fosse dirigir. Até que esse livro me foi oferecido. Eu reli e encarei o desafio de contar essa história.

UOL Cinema - Você chegou a pensar em atuar ao mesmo tempo que ia dirigir?
Marco Ricca -
Nem cogitei. Como também sou produtor do filme, isso me ocupou muito tempo. Tava com esse olhar por trás, para edificar uma obra. E queria chamar atores. Eu brincava muito dizendo que não ia atuar porque só tinha chamado ator bom pra fazer o meu filme. Durante as filmagens, eu tinha certa vergonha. Às vezes, entrava o cara do making of e eu me sentia deslocado daquela função de diretor. Foi um exercício em que eu mergulhei mesmo, vivenciei essa experiência da direção muito profundamente. Não daria para ser outra forma. É claro que todos os personagens são sedutores - adoraria fazer qualquer um. Tinha clareza de todos eles, mas minha contribuição estava em ajudar os atores.

UOL Cinema - Você trabalhou em dois filmes do Beto Brant, que também trabalhou com o Marçal Aquino. Ele foi uma referência para você?
Marco Ricca -
Sendo profundamente sincero: tenho várias referências, mas elas são talvez mais literárias do que cinematográficas. O Beto é um cineasta que me influênciou muito como ator. Fiz dois filmes com ele, sendo que um deles - o "Crime Delicado" - eu criei em parceria com ele. Foi uma provocação que eu fiz ao Beto. Obviamente, ele me influenciou muito. Assim como a Lina Chamie, que é uma referência na minha vida. Mas eu trabalhei com 30 cineastas, Cacá Diegues, Bruno Barreto, João Batista de Andrade. Tive o privilégio de ser protagonista deles. Não tem como não ser influenciado por todos de alguma forma. São referências mais vivenciais do que estéticas. A atmosfera que um Beto ou um Cacá criam no set; ou a loucura controlada de uma Lina Chamie, o rigor do Maurício Farias, tudo isso tava lá no meu set.

UOL Cinema - Qual foi o seu método para lidar com os atores neste filme?
Marco Ricca -
A base da preparação foi leitura e compreensão dos personagens para podermos contar aquela história na mesma direção, no mesmo sentido. É claro que tive que trabalhar um pouco da fala dos personagens uruguaios, trabalhar um pouco a prosódia - tirar um pouco do sotaque paulista do Fulvio [Stefanini], tirar um pouco do sotaque carioca do Otávio [Muller]. Espero que "Cabeça à Prêmio" seja compreendido como um filme humanista, no sentido de que estamos falando de ser humano. Não é um filme sobre matadores. Tentamos imprimir essa poética. Tenho muito orgulho do trabalho desses companheiros, que toparam esse desafio. Em resumo: não houve um método, houve uma procura. Não sei se chegamos lá, mas procuramos dar humanidade aos personagens, o tempo todo. Estávamos sempre alertas a essa preocupação.

UOL Cinema - O filme participou como concorrente da Première Brasil, no Festival do Rio, antes de vir para a Mostra. Como foi a repercussão lá e o que você espera aqui?
Marco Ricca -
Vou confessar que não gosto muito desse negócio de concorrer. A coisa da competição acaba com a possibilidade de uma "mostra" ou uma "amostragem". Mas é uma fórmula que tá aí e pronto. A receptividade foi muito boa [no Rio]. Tivemos um problema no primeiro dia, mas no segundo dia a gente corrigiu. Foi a primeira vez que eu vi o filme inteiro, porque levei o filme debaixo do braço. A diferença aqui é que sou paulista, e o livro é de um autor daqui. Então, provavelmente, vamos encontrar um público mais crítico. Estou com a maior vontade de exibir o filme aqui. E quero que tenha muita gente assistindo. Esse é o meu desejo, onde quer que eu vá com o filme.

Cabeça à Prêmio
UNIBANCO ARTEPLEX 1 - 02/11/2009 - 20:00 - Sessão: 1073 (Segunda)
ESPAÇO UNIBANCO 3 - 03/11/2009 - 18:50 - Sessão: 1200 (Terça)
CINEMARK CIDADE JARDIM - 04/11/2009 - 19:00 - Sessão: 1335 (Quarta)
ESPAÇO UNIBANCO POMPÉIA 10 - 05/11/2009 - 14:30 - Sessão: 1429 (Quinta)

Para mais informações, visite o Especial da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde se encontra a cobertura completa do evento com notícias, vídeos, fotos e serviços. Para a programação completa da Mostra, acesse o site oficial.

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