Dos jovens realizadores franceses da atualidade, Christophe Honoré ocupa um lugar bem particular. Além de seus últimos trabalhos terem obtido certa repercussão no cenário internacional, chama a atenção a forma como seus filmes estão em constante diálogo com a cinematografia de seu país. "Canções de Amor" (2007) tem a ver com os musicais de Jacques Démy ("Os Guarda-Chuvas do Amor"); "Em Paris" (também 2007), com os longas da Nouvelle Vague; e seu novo "Making Plans For Lena" encontra ressonâncias no trabalho de Arnaud Desplechin, especialmente em "Reis e Rainha" (2006) e "Conto de Natal" (2008).
Não que Honoré seja mero aprendiz ou se limite a copiar. Ele é um cineasta que toma as referências para si, transformando-as em seu próprio cinema. Em "Making Plans For Lena", temos ao centro uma família complicada, cujos membros nunca entram em acordo e nunca se amam verdadeiramente. Lena (Chiara Mastroianni) separou-se do marido há algum tempo e agora viaja para a casa de campo com os dois filhos pequenos para se encontrar com sua mãe, pai, irmão e irmã.
Ainda na estação de trem, Lena perde o filho mais velho no meio da multidão. Incidentes como esse deixam pistas de que a moça tem problemas para se cuidar sozinha. Por isso sua família insiste tanto em dar palpites sobre como ela deveria ajustar sua vida.
A mãe, Annie (Marie-Christine Barrault), que nunca gostou muito de Lena, insiste em tentar reconciliá-la com seu marido infiel, Nigel (Jean-Marc Barr). O pai, Michel (Fred Ulysse), esforça-se para tentar entender a filha e ficar do seu lado, enquanto o irmão (Julien Honoré) quer que ela namore o irmão de sua própria namorada, Simon (Louis Garrel, presença constante nos filmes do diretor). O problema é que a protagonista mesma nunca sabe ao certo o que quer da vida. Ela costuma só perceber o que não quer, errando muito e sofrendo ainda mais.
A sanidade emocional, assim, está no centro de "Making plans for Lena". Sem estabelecer um foco preciso entre a protagonista e sua família, o roteiro, assinado por Honoré e a escritora Geneviève Brisac, arma situações sem a preocupação de amarrar, explicar ou concluir todos os fatos.
A rapariga loura de Manoel Partindo de um conto de 1873 do escritor Eça de Queiroz, o cineasta Manoel de Oliveira adaptou e modernizou o enredo de "Singularidades de uma Rapariga Loura", que tem sua última sessão hoje. Em apenas 63 minutos, o cineasta português, às vésperas de completar 101 anos (em 11 de dezembro), dá mais uma vez provas de estar no auge de seu talento, além de articular como nunca um particular poder de síntese.
A trama, aparentemente singela, tem como protagonista Macário (Ricardo Trêpa, neto do diretor e ator habitual de seus filmes), jovem que viaja num trem, rumo ao Algarve, no sul daquele país. Abalado por um profundo desgosto, ele acaba por abrir seu coração a uma bela passageira desconhecida que está ao seu lado (Leonor Silveira, de "Um Filme Falado"). E revela-lhe seu fracassado amor por Luísa (Catarina Wallenstein), a famosa loura.
Alternando a narrativa no trem a flashbacks que reconstituem o romance, Manoel de Oliveira desenvolve uma narrativa cheia de sabor e detalhes que se mostrarão importantes para o desfecho - que parecerá brusco a quem não se der conta de alguns deles. Há uma série de incidentes misteriosos ao longo do caminho que este final explicará. Até mesmo a aparentemente gratuita leitura de poemas de Alberto Caeiro, um dos mais célebres heterônimos de Fernando Pessoa, pelo ator Luís Miguel Cintra, afinal fará sentido.
"Singularidades de uma Rapariga Loura" é uma dessas pequenas joias da filmografia de Oliveira, onde se alinham filmes como "Vale Abraão" (93), "Vou para Casa" (2001), "Palavra e Utopia" (2000) e "Viagem ao Princípio do Mundo" (97), entre tantos outros.
"Making Plans For Lena" CINEMA DA VILA - 04/11/2009 - 14:00 - Sessão: 1279 (Quarta)
CINEMARK - SHOPPING ELDORADO - 05/11/2009 - 19:30 - Sessão: 1423 (Quinta)
"Singularidades de Uma Rapariga Loura" CINEMA DA VILA - 04/11/2009 - 16:10 - Sessão: 1280 (Quarta)
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