"Juan dos Mortos" traz interessante discussão sobre Cuba, mas diverte menos do que poderia
Filmes de zumbis, sejam de comédia ou os que se dizem sérios, sempre serviram para questionar os excessos e os valores da sociedade capitalista, já que a grande maioria é feita em Hollywood. Fã do gênero desde pequeno, o diretor Alejandro Brugués se perguntou o que aconteceria se uma epidemia zumbi afetasse a socialista Cuba. O resultado de sua imaginações pode ser visto em "Juan dos Mortos", que estreia nesta sexta-feira (21) nos cinemas brasileiros.
Fazendo uma referência clara ao filme “Todo Mundo Quase Morto" (2004) no título e no estilo, o primeiro longa de comédia zumbi de Cuba colecionou mais de dez prêmios do público em festivais do mundo todo por incluir o elemento político no gênero e criticar parte da sociedade acomodada do país.
O protagonista, Juan (Alexis Díaz de Villegas), é o malandro cubano. Ele não trabalha, prefere rum a alimentos, é divorciado, tem uma relação conturbada com a filha e gosta de se divertir com a mulher do vizinho. Quando é convidado pelo amigo Lazaro (Jorge Molina) a fugir para Miami, ele responde com sinceridade: "Mas lá eu ia ter que trabalhar".
TRAILER LEGENDADO DE FILME "JUAN DOS MORTOS"
A tranquilidade de Juan é completamente destruída por uma epidemia misteriosa (como acontece em todo filme de zumbi) que transforma os cidadãos em mortos-vivos. Pela televisão, a imprensa logo anuncia que a epidemia é obra de dissidentes cubanos financiados pelo governo norte-americano.
Sem trabalho há anos, Juan vê nos seres rastejantes a oportunidade de ganhar dinheiro. Ele recruta um time de matadores de mortos-vivos e oferece o serviço pelas ruas de Havana. Juan atende ao telefone com a frase: "Juan dos Mortos. Matamos seus entes queridos. Em que posso ajudar?".
Outros filmes do gênero |
"Todo Mundo Quase Morto" (2004 - Inglaterra - Direção: Edgar Wright) |
"A Volta dos Mortos Vivos" (1985 - Estados Unidos - Direção: Dan O'Bannon) |
"Zumbilândia" (2009 - Estados Unidos - Direção: Ruben Fleischer) |
"Meu Namorado é um Zumbi" (2013 - Estados Unidos - Direção: Jonathan Levine) |
"Fome Animal" (1992 - Estados Unidos - Direção: Peter Jackson) |
As cenas mais engraçadas do filme são quando a equipe de Juan ainda está aprendendo a exterminar os zumbis. Acreditando que os mortos-vivos estejam do lado dos americanos, Vladi California (Andros Perugorría) estende uma bandeira dos Estados Unidos para se proteger dos ataques. Alertado que não se tratam de americanos, o pouco esperto Vladi apenas substitui a bandeira dos Estados Unidos por uma de Cuba.
Segundo o diretor, os zumbis também representam a parte acomodada da população cubana, “aquela que aceita as coisas como elas vêm”, contou ele. Há alguns anos, olhando algumas pessoas circulando pelas ruas de Havana, o diretor as comparou com os zumbis que povoaram sua infância toda. A comparação também está no filme. Em uma das cenas, um grupo de zumbis rasteja pelas ruas, mas mantém suas atividades normais, como colocar o lixo para fora de casa. Um dos sobreviventes pergunta: "Aqueles são zumbis?". E outra personagem responde: "Pra mim eles parecem normais”.
Cena do filme cubano sobre zumbis "Juan dos Mortos", de Alejandro Brugués
Apesar da interessante reflexão sobre a sociedade cubana 50 anos após a revolução socialista, o filme provoca menos risadas do que uma comédia zumbi poderia causar. Depois de 40 minutos de matanças, o filme torna-se repetitivo e algumas piadas de mau gosto chamam a atenção. Em uma delas, o protagonista mata um zumbi enterrando uma torneira de jardim nele e, ao final, o chama de sodomita.
O longa usou boa parte do seu orçamento de US$ 2,7 milhões nos efeitos especiais: cortes de membros, explosões de cabeças, acidentes de carro, implosões de prédio. Nesse sentido, o filme também não faz nada de novo do que outros filmes do gênero já fizeram. Com orçamento de US$ 5 milhões, “Todo Mundo Quase Morto” tem mortes com lançamento de discos de vinis mais engraçadas e mais criativas.
Mesmo com as falhas, não é todo dia que zumbis famintos percorrem as interessantes ruas e história de Havana. O protagonista traz uma alternativa para o povo cubano quando uma situação extrema é apresentada. Além das opções de fugir para Miami, ganhar dinheiro com isso ou se acostumar com a situação, Juan apresenta a alternativa de ficar e lutar por um país melhor.
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