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"Sem Fronteiras" é meu tributo a Nimoy, diz Quinto sobre o Spock original

Eduardo Graça

Colaboração para o UOL, em Londres (Inglaterra)

31/08/2016 12h12

Zachary Quinto, 39, tem viajado sem parar, mas mantém um sorriso lentamente aberto, em tudo parecendo ser a antítese de seu senhor Spock, personagem que o ator de 39 anos encarna pela terceira vez em “Star Trek: Sem Fronteiras”, que estreia nesta quinta (1º). Logo a conversa engata e ele fala de Spock, do novo filme, dirigido pelo taiwanês Justin Lin, depois de dois longas sob a batuta de J.J. Abrams, da morte do Spock original durante as filmagens, o ator Leonard Nimoy, e de seu próximo filme, “Snowden”, em que vive o jornalista britânico radicado no Rio Glenn Greenwald.

Em "Sem Fronteiras", a tripulação da Enterprise está em uma longa missão de exploração do espaço quando recebe um pedido de socorro e sofre um ataque. Preso em um planeta desconhecido, o grupo acaba sendo dividido.

A conversa com o UOL se deu antes da morte brutal do colega de elenco Anton Yelchin (1989-2016), que viveu o oficial de navegação Chekov em “Star Trek”, e da revelação de que o tenente Hikaru Sulu vive uma relação homoafetiva, com marido e família. Quinto é gay e namora o modelo americano Miles McMilan, 27. Os melhores trechos da conversa seguem abaixo.

UOL - Lá se vão nove anos desde que você encarnou pela primeira vez o sr. Spock, na nova versão da franquia "Star Trek". Quais as memórias mais claras daquelas filmagens?
Zachary Quinto -
Era 2007, são praticamente dez anos desde o momento em que eu comecei a ter de pensar de viver um personagem tão identificado com um mesmo ator, meu querido Leonard Nimoy (1931-2015). Com ele, de quem sinto imensa falta, logo aprendi que é natural e até desejável sim usar o que acontece em sua vida, seu amadurecimento tanto pessoal quanto profissional, na evolução do personagem, do primeiro para o terceiro filme. Parte da minha jornada com Spock é voltar a ele e fazer uma espécie de análise, de avaliação, de nós dois, minha e dele.

Como foi o impacto da morte de Nimoy para você?
Terrível. Lá em 2006 ele conversou com J.J. Abrams e comigo e nos deu não apenas sua bênção, mas o total apoio e, digo mais, comprometimento, com o projeto. E aí a começo acabou ultrapassando, para nós dois, o limite do trabalho. Nos tornamos grandes amigos. Nossa relação ultrapassou os filmes e o Spock. Nos frequentávamos, nos falávamos sempre. Há, para mim, de certa forma, um comprometimento maior, sem detrimento aos outros dois filmes, em relação a “Star Trek: Sem Fronteiras”.

Spock - Divulgação - Divulgação
Zachary Quinto (esq.) e Leonard Nimoy como Spock em cena de "Star Trek" (2009)
Imagem: Divulgação

Ele morreu durante as filmagens...
Sim, estávamos em Vancouver, todos juntos, e eu decidi que faria este filme em homenagem a ele. Seria meu tributo pessoal. Perdê-lo, no entanto, foi um golpe para todos nós, elenco e equipe técnica. Ele de fato se envolveu, mais do que as pessoas imaginam, com a nova encarnação da Enterprise. Mas ele viveu uma vida belíssima, sabia? (Pausa e olha pela janela para o pátio interno do hotel por instantes). Quero ter a sorte de viver uma vida tão rica quanto a dele, repleta de amor, sucesso e busca do conhecimento.

E há uma homenagem a ele no filme. Vocês tratam da morte de Spock, não?
Não posso entrar em detalhes, mas, huuum, basicamente, é isso sim. E ela ocorre de acordo com a mitologia Trekkie, faz sentido também no universo da ficção. Simon (Pegg) escreveu a cena com amor, respeito e reverência. Ele o amava muito também.

É a primeira vez que Pegg (o Scottie da franquia) escreve, ao lado de Doug Jung, um roteiro da franquia. Foi diferente?
Não tinha como não ser. Ele traz a perspectiva do elenco. E de quem está envolvido com a franquia, de dentro, há uma década. A cena da morte do Spock, por exemplo, é, também, muito por conta dele, uma celebração da vida do Leonard e da contribuição que ele deu não apenas ao Spock, mas à “Star Trek” como um todo.

Do que você mais sente falta dele?
De bater papo com ele. Era sempre assim: se estávamos na mesma cidade, arrumávamos um jeito de nos encontrar. Ele era um ótimo ouvinte. É estranho, eu fico com esta sensação de que ainda o verei novamente qualquer dia desses. Que a gente só está em cidades diferentes, trabalhando. É uma sensação de estar desorientado, de ter perdido a bússola, sabe? Perdi alguém muito importante para mim. Mas é a vida, né?

Obviamente que não é o mesmo, mas este é o primeiro “Star Trek” da nova encarnação sem J.J. Abrams. Foi muito diferente?
Foi. Também não tivemos Los Angeles e sim Vancouver como cenário da vida real durante as filmagens. Justin imprimiu uma energia diferente à franquia, que os espectadores vão sentir já nos primeiros minutos. Amamos e morremos de saudade de J.J., mas Justin foi incrível. Ele embarcou na Enterprise em movimento com convicção e entusiasmo. Foi o sucessor perfeito para J.J.

Ele também embarcou em “Velozes e Furiosos” no meio da corrida. Naturalmente, embora ele tenha toda uma carreira anterior ao filme de 2013, a expectativa é de um “Star Trek”, bem, mais veloz e furioso (risos)...
Sim, é natural (rindo). Há muita ação no filme e o ritmo é veloz, mas muito porque a história pede isso. A ideia foi um pouco dar uma chacoalhada em personagens que você já achou que conhecia na totalidade e mostrar lados mais inesperados deles. Por exemplo, na maior parte do filme, Spock está ao lado do Dr. Bones (vivido por Karl Urban) e revela-se ali uma interação bem peculiar. Kirk (Chris Pine) passa a maior parte da trama ao lado de Scotty e Checkov. Uhura (Zoe Saldana), por sua vez, está ao lado do tenente Sulu (John Cho). Estamos separados em grupos, sem comunicação, em um planeta desconhecido, nada amigável, com dois novos personagens, o vilão principal vivido por Idris Elba e uma possível aquisição para as forças do bem, papel da Sofia Boutella.

Seu próximo filme é “Snowden”, de Oliver Stone (ainda sem data de estreia no Brasil), em que você interpreta o jornalista Glenn Greenwald, que hoje vive no Rio. É uma realidade bem diferente da de “Star Trek”...
Completamente diferente. Trabalhar com Oliver foi impressionante. Não tive a oportunidade de conversar com o Glenn, não conseguimos acertar nossas agendas. Mas Oliver fez um filme comprometido com a versão da história tal qual apresentada por Glenn, o que foi perfeito para mim. Ele é uma figura riquíssima, não faltou material para eu pesquisar. É um jornalista com uma posição muito clara sobre vigilância do governo e o acesso que deveríamos ter a documentos mantidos secretos por nossos líderes.

E o que você acha de Edward Snowden? Ele foi, afinal, um herói ou um traidor de seu país?
Ele definitivamente não é um vilão nacional. Admiro pessoas que publicamente defendem o que acreditam ser o correto, o ético a se fazer, a todo custo. Edward acreditou ter uma responsabilidade em fazer o que fez. Estamos todos mais conscientes do mundo em que vivemos por conta do que ele fez. Tenho o maior respeito por ele, que tão jovem foi decidido e mudou para sempre sua própria vida e a do planeta. Ele sacrificou sua própria liberdade pelo que ele acredita. Queria acreditar que eu faria o mesmo na situação dele. Mas, cara, o que ele fez foi uma enormidade.