Rejeição a "La La Land" deu vitória a "Moonlight" no Oscar 2017
O anúncio de "La La Land" como melhor filme, a subsequente correção do mico e a vitória de "Moonlight" no Oscar 2017 não foi uma mera resposta a toda a polêmica do ano passado, surgida com a hashtag #OscarSoWhite (ou "Oscar Tão Branco", pela ausência de negros entre os indicados).
"Moonlight" já parecia ser o preferido dos integrantes da Academia, de acordo com uma série de entrevistas com os votantes publicada pela revista "The Hollywood Reporter" na última semana. Chamada de "Voto Brutalmente Honesto", a série trazia comentários anônimos de dois atores, um relações-públicas, um produtor e dois executivos sobre suas escolhas. "Moonlight" aparecia em primeiro em quatro delas, enquanto "La La Land" era citada apenas uma vez.
O motivo que levou esses membros a votarem em "Moonlight" foram "a construção e humanidade" do filme, o "bom roteiro, boas performances, bom elenco, profundo significado humano", a "simplicidade, beleza e sem papo-furado", e o adjetivo "absolutamente incrível". "La La Land", por sua vez, chegou a ser classificado por um dos votantes como "uma grande porcaria" e por outro como "nada memorável".
Um filme que rende opiniões muito polarizadas pode acabar perdendo a estatueta, já que eleição de melhor filme funciona por "voto preferencial". Tanto na primeira etapa, quando são escolhidos os indicados, quanto na segunda etapa, quando é decidido quem vai levar a estatueta, os 6.687 membros da Academia preenchem a cédula de votação em ordem de preferência. E "Moonlight" figurava sempre como o primeiro ou segundo preferido dos eleitores.
Mais premiado, menos assistido
"Moonlight" tem batido "La La Land" em quase todas as premiações desta temporada. Levou o Globo de Ouro, o Spirit Awards (o chamado Oscar do cinema independente), o prêmio da crítica e agora o Oscar de melhor filme. No site Rotten Tomatoes, que avalia os filmes com base nas críticas que ele recebe da imprensa, seu índice de aprovação é de 98%.
Nada disso, porém, tem refletido em bilheteria. Entre todos os nove concorrentes, é o filme com mais baixa bilheteria. Está em 101º na lista dos maiores faturamentos do ano passado, perdendo até para a comédia besteirol "Zoolander 2". Seu faturamento, até agora, foi de pouco mais de US$ 22 milhões. Não deu prejuízo, já que custou apenas US$ 5 milhões, mas o que tem impedido as pessoas de verem "Moonlight"?
Parte disso é o reduzido número de salas (entre 400 e 600) em que estreou nos Estados Unidos.
Outro fator é a publicidade em cima dele: "Moonlight" tem sido vendido como "um drama gay" ou "um filme sobre um menino negro e gay da periferia de Miami". Esta classificação é imprecisa e acaba espantando audiências racistas e homofóbicas.
Mas o que é "Moonlight"?
"Moonlight" não é um "drama gay". É um filme sobre solidão que conta a história do garoto Chiron em três momentos de sua vida: infância, adolescência e vida adulta. Sem pai, o menino é criado por sua mãe, uma viciada em crack (em uma performance brilhante da atriz Naomi Harris), que lhe dá nenhuma atenção.
Chiron é um menino que não sabe ser como os outros meninos. É ruim em esportes, não sabe brigar e constantemente é perseguido e apanha dos vizinhos e dos colegas de classe. Em uma dessas perseguições, conhece Juan (Mahershala Ali, que levou o Oscar de coadjuvante), que se comove com o garoto e o leva para a casa de sua namorada Tereza (Janelle Monáe), onde ele finalmente terá algum afeto. Mas Chiron cresce e se torna um homem fechado e que nunca viveu de acordo com suas emoções. Um drama em que empatia é essencial.
Talvez seja isso que os eleitores da Academia quiseram mostrar para o mundo: que o sonho de "La La Land" pode ser possível para as Mias e os Sebastians, mas ainda é inatingível para os Chirons.
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