Quem costuma ler créditos e assistiu recentemente a "O Curioso Caso de Benjamin Button" não passou batido pelo diretor de fotografia do filme, Claudio Miranda. Com esse nome, bem que podia ser um brasileiro, não é?
Miranda, que foi eletricista, eletricista-chefe e fez fotografia de segunda unidade antes de se tornar diretor de fotografia de longas, é natural do Chile. Mas com um ano de idade mudou-se para os Estados Unidos. "Não falo quase nada [de espanhol]", disse ele, em entrevista exclusiva ao
UOL Cinema por telefone, de seu escritório em Los Angeles. "E não tenho mais ligações com o país, só meu pai mora lá."
Por "Benjamin Button", Miranda foi indicado a quatro prêmios de melhor fotografia, inclusive ao Bafta, concedido pela Academia Britânica, e o da Sociedade Americana de Cinematografia (American Society of Cinematography, ASC), à qual é associado.
O diretor David Fincher foi o responsável pela ascenção de Miranda na carreira. Desde meados dos anos 80, os dois fizeram juntos vários videoclipes de bandas, comerciais e longas-metragens. "Meu primeiro trabalho com David foi como eletricista-chefe, em 'Seven'", disse ele. "Depois, trabalhamos juntos em 'Vidas em Jogo', 'Clube da Luta' e em 'Zodíaco'." Neste último, ele fotografou algumas cenas adicionais, mas não aparece nos créditos.
Também foi Fincher quem deu a primeira oportunidade a Miranda quando lhe ofereceu a direção de fotografia do comercial de uma grande marca de equipamentos esportivos. Ele considera "A Thousand Roads", de Chris Eyre, apresentado no Festival de Sundance do ano passado, o primeiro crédito como diretor de fotografia. Mas "O Curioso Caso de Benjamin Button" é seu primeiro blockbuster.
Entre os próximos trabalhos de Miranda está "Tron 2.0", que resgata o universo virtual criado pela Disney nos anos 80. "Estamos em pré-produção", disse ele. "Devemos começar a filmar em abril." A seguir, trechos da entrevista.
UOL Cinema - Embora tenha feito pelo menos dois longas e um curta independentes como diretor de fotografia, considera "O Curioso Caso de Benjamin Button" seu primeiro grande filme?
Claudio Miranda - Sim. Esse filme tem muito poder e é uma grande história. Tem uma direção de arte ótima e isso ajuda qualquer diretor de fotografia. Foi muito difícil de iluminar porque é um filme muito sombrio. Outra coisa que nos ajudou muito foram as locações, que eram fantásticas.
UOL Cinema - Como é trabalhar com um diretor como David Fincher?
Claudio Miranda - Estamos há tanto tempo juntos que é muito fácil. Falamos muito sobre a qualidade das luzes e coisas assim. E muitas vezes nem usamos luzes nas cenas. Em "Benjamin Button" não há luzes. Trabalhamos muito com luz natural. Ao menos, meu objetivo era fazer com que parecesse natural.
UOL Cinema - Você usou muita pós-produção? Ou seja, corrigiu muito a luz durante a edição?
Claudio Miranda - Tem muita pós-produção, sim. Mas tentamos deixar o mais natural possível, para que [a pós-produção] não aparecesse. E acho que conseguimos.
UOL Cinema - Como escolhe os projetos dos quais participa?
Claudio Miranda - Tudo tem a ver com o projeto, o roteiro.
UOL Cinema - Quais são os seus diretores de fotografia preferidos?
Claudio Miranda - Gosto muito do trabalho de Roger Deakins, o que ele fez, por exemplo, em "Um Sonho de Liberdade" [1994]. E tem muitos outros.
UOL Cinema - O que acha de César Charlone?
Claudio Miranda - Hummm. Não sei se o conheço...
UOL Cinema - Ele fez um pouco de câmera em "Chamas da Vingança", para Riddley Scott e, claro, trabalhou com Fernando Meirelles em "Cidade de Deus".
Claudio Miranda - Ah, sim, claro, claro. Fantástico diretor de fotografia. Eu mesmo trabalhei com Tony [Scott, irmão de Ridley] como chefe eletricista em "Inimigo do Estado". Bom, um dos meus ídolos é Gordon Willis [diretor de fotografia de "O Poderoso Chefão"].